Conheci uma pessoa e andamos juntos há cerca de um mês. É verdade que comecei a andar com ela quando ainda estava a terminar uma ligação, que durou dois anos.
Há dias, voltei a cruzar-me com essa pessoa numa festa e isso deixou a minha namorada atual muito perturbada. Ela queixa-se que eu ainda não esqueci a pessoa com quem estive nos últimos tempos. Nessa mesma noite, depois de termos bebido um pouco, eu dei comigo a trocar-lhe o nome, quando estávamos a sair do carro.
Conclusão: ela acha que é melhor terminarmos já, em vez de complicar ainda mais as coisas. O que posso fazer, uma vez que gosto mesmo dela, embora ainda não tenha esquecido aquela com quem vivi até agora?
Caro leitor, lembra-se daquela graça em que a melhor receita para curar uma ressaca é beber outro copo? O cenário que descreve traduz uma tendência mais comum do que se pensa: a de contornar o lado desagradável de uma relação que chega ao fim, iniciando outra, para “tapar buracos”, ou seja, feridas, vazios ou desencontros de expectativas não realizadas. “Um mal de amor cura-se com novo amor”, “O que não falta por aí são mulheres disponíveis”, “não gosta ela, mas há quem goste” e por ai fora.
A canção de Bethânia resume bem este estado de espírito, ou a postura de ‘fair play’ que esconde sentimentos menos ‘light’: “Olhos nos Olhos, quero ver o que você faz/ Ao sentir que sem você eu passo bem demais…” Tudo vale para acalentar o ego sem ter de passar pela digestão do eventual fracasso nem pelo dissabor da perda, desde que haja alguém disponível. Imagine-se no papel da sua nova namorada: o episódio da troca de nome era bem capaz de o deixar, a si, no mínimo, frustrado e ofendido. Mas esse não é o ponto central da questão.
“Gosto mesmo dela”. Não pretendo por em causa a sua afirmação, mas sugiro-lhe um exercício simples: procure enumerar três características da personalidade dela que a diferenciem das restantes mulheres que conheceu. Ou tente responder, tão honestamente quanto possível, à questão: “Porque ando (ou quero continuar a sair) com ela?” Assim poderá vislumbrar o que o levou a saltar de uma relação para a outra, ou seja, as expectativas que não viu cumpridas na primeira relação e espera preencher numa próxima.
Se é verdade, como dizem os líderes motivacionais, que a solução está no problema, talvez este incidente possa levá-lo a ponderar a eventual dificuldade em conseguir estar sozinho, sem “paliativos” (ou paixões com finalidade puramente distrativa), no rescaldo de um amor que acabou. Sempre que der por si a construir castelos no ar com alguém que acabou de conhecer, é possível que esteja a entrar numa ‘relação de substituição’ ou ‘paixão sintoma’, em que o outro funcionará para si como ‘peça provisória’, um ‘affair’ analgésico contra a dor.
Ao adiar ou fugir dessa etapa (avaliar o que não correu bem, quais as suas necessidades, o entende como projeto a dois, etc), o mais certo é que entre num ciclo de “junta-separa” com quem estiver à mão. Entre as sequelas deste padrão de funcionamento, a incapacidade para acreditar no amor (de que é exemplo a queixa frequente “afinal ela é tão [adjetivo negativo] como a minha ex”). Apresente as suas desculpas e aceite a sugestão dela: preserve um tempo para si, certifique-se de que “ela” não é “só” uma muleta. No devido tempo, saberá a resposta e sentir-se-á mais centrado e seguro para retomar o ponto em que ficou.