O conhecimento é infinito e tem poderes mágicos: permite-nos pensar mais e melhor e crescer, como seres humanos; liberta-nos da ignorância e dá-nos autonomia para decidirmos, de acordo com os nossos valores e os nossos critérios; capacita-nos a participar, de forma mais qualificada e mais transformadora, naquilo que determina as nossas vidas e torna-nos mais iguais; é um legado de todas as gerações que nos precederam e deverá estar à disposição de todas as que nos sucederem; é um património eterno, que não se gasta com o uso e não se subtrai devido à partilha. O conhecimento é a essência da humanidade e é um direito de todos os seres humanos.
O parágrafo precedente foi o farol que escolhi para a minha vida. Acho que tudo começou numa aula de Teoria da Educação, em 1983, na Universidade de Évora. Foi aí que a minha vida tomou um novo rumo. Aquelas palavras do Professor Manuel Ferreira Patrício, sobre a essência da Educação e do seu papel na construção da Liberdade e da Autodeterminação das pessoas foram um autêntico interruptor que se ligou dentro de mim, deixando entrar um ideal poderoso: construir pontes entre o conhecimento e todos os que deles estão longe, por qualquer razão. Construir essas pontes para que possam ocorrer encontros felizes entre seres humanos e os conhecimentos, os saberes, as culturas, as informações e as experiências.
Construir pontes entre os sonhos e os sonhadores, na certeza de que aquilo que os separa se chama aprendizagem. Aprendizagem, a grande e universal ferramenta de transformação das nossas vidas e dos nossos destinos.
Desde aquele dia de 1983, sinto que é esta a minha missão vital: ajudar a edificar pontes para que, nelas, aconteçam aprendizagens capazes de mudar as vidas daquelas e daqueles que as concretizam. Tenho a felicidade de ser professor e, portanto, profissionalmente realizo-me, todos os dias, fazendo aquilo que acredito e que me guia em todos os dias.
Mas, há uma outra parcela da minha vida que concorre para este caminho que trilho: a minha vida cívica e social, na minha terra: o Alentejo.Em 1998, com amigas/os da minha terra (São Miguel de Machede/Évora), fundámos a Escola Comunitária de São Miguel de Machede no seio da SUÃO-Associação de Desenvolvimento Comunitário e, desde esse momento tão significativo, construímos muitas pontes entre muitos sonhos e os seus respectivos sonhadores. A Brigada Assinatura fez nascer assinaturas inimagináveis das mãos enrugadas de muitas/os conterrâneas/os nossas/os, acompanhados de sorrisos únicos, molhados, aqui e ali, de lágrimas felizes; o Gabinete do Desenrascanço Estudantil deu asas a muitos projectos de vida, tornando-os reais; o Curso de Educação de Adultos preencheu de desafios e novidades tantas vidas antigas, cheias de solidão e de saudades; o Circuito da Aldeia transformou saberes e quotidianos da aldeia num produto de turismo pedagógico para um nicho de mercado urbano.
Em 15 anos, a Educação não Formal tornou-se, com o nosso projecto, uma actividade económica que cria riqueza, dá emprego aos jovens qualificados e realiza projectos e sonhos de todos.Desde 2009, através da Universidade Popular Túlio Espanca da Universidade de Évora, aumentou-se a escala do desafio e do nosso sonho: construir mais pontes, em todo o Alentejo. Pontes entre as/os alentajanas/os e o saber. Não podia terminar estas palavras sem referir que as pontes que se vão construindo no Alentejo têm dois sentidos: por elas nos chega o conhecimento, a cultura e a sabedoria das/os que nunca tiveram oportunidade de frequentar uma escola, daquelas/es que aprenderam com a Natureza, com os mais velhos, com a experiência e com a sensatez deste extraordinário povo.
Para mim, que passo a vida nestas pontes e nelas me vou encontrando com esta maravilhosa gente, tenho aprendido muito mais do que tenho ensinado. Tem sido sempre assim: no meio da ponte, encontro sempre mais para receber do que aquilo que levo para oferecer. Obrigado Alentejo!