Quando tanto se fala na igualdade, na urgência de se acabar com o racismo e discriminação, muitos teimam em não acreditar que é possível e embora não assumam que o sejam, continuam a deitar para o lado, a olhar de alto para quem está em baixo. Às vezes questiono-me sobre atitudes e preconceitos, sobre frases que ouço e atitudes que vejo.
Vamos lá ver… ser voluntário é dar de si, é dar tudo por uma causa. Sou voluntária (sem qualquer outro título ou cargo), como todos os outros, independente do grupo a que se pertence. Todos nas ruas estamos unidos por uma causa e só assim é que se compreende que em primeiro lugar estejam aqueles que precisam de nós. No Verão ou no Inverno ninguém se queixa do tempo. Ser voluntário é entrega, é acreditar que não mudamos o mundo, mas por vezes conseguimos mudar o rumo de uma pessoa . Ser voluntário é não receber nada em troca e receber tudo, é receber lições que muitas vezes nos fazem despertar para a vida tão materialista que levamos.
Nenhum voluntário vai para as ruas com o sentimento de perda de tempo, à procura de benefícios para uso particular. Há quem acredite que é ao contrário. Lamento e não compreendo como temos profissionais a ocuparem lugares, a tomarem decisões sobre os outros sem nunca terem estado no terreno – ou se estiveram rapidamente se esqueceram da dor do outro. Nesses casos, ‘bora lá reciclar. Contam histórias, falam de números, falam das carências, mas muitas vezes nem sabem quem é quem, onde estão e do que necessitam.
Inacreditável é ouvir alguém e com cara de enjoo, perguntar: “O que vos move? O que vos leva andar no meio deles, com eles?” Primeiro, paremos para pensar e não cair na tentação de responder prontamente, porque aquela expressão de “no meio deles” deixa qualquer um de boca aberta e quase sem fôlego. Mas quem são “eles”? No meio de quem? Dos sem abrigo? De toxicodependentes? De prostitutas? De quem? No meio de pessoas racistas e preconceituosas?
Obviamente que se referem àqueles que realmente precisam de ajuda e não ao Exmos Srs que julgam ou acreditam que a vida é sempre recheada de coisas boas. Mais, referem-se a pessoas que lhes pagam o ordenado, que lhes permitem levar a vida que levam, que os ajudaram a comprar um carro XPTO e que neste momento são a sua fonte de rendimento e subsistência.
E agora? Quem são “eles”? Os que precisam de ajuda, ou os que se aproveitam deles?