Em crónicas futuras irei abordando exemplos concretos de solidariedade no Mundo e em Portugal.
Num Mundo onde se instalaram, e aparentemente para durar, as calamidades, insensibilidades, mudanças, ganâncias, crises, inseguranças, exclusões, iniquidades, austeridades, corrupções, ausência de valores e de vergonha, a falta de oportunidades e um desemprego aterrador que tanto nos angustiam e amedrontam, quero focar bons exemplos, assim como a esperança e a exemplaridade que ainda existem entre nós e que nos devem iluminar e inspirar.
Neste momento em que os vírus da ganância, da irresponsabilidade, da falta de bom senso e, repito, da falta de vergonha parecem querer espalhar-se e fortalecer a cupidez e o egoísmo, pondo fim ao estado providência e anunciar o rufar dos tambores das guerras… é essencial que se fale e atue para estimular a solidariedade e a cidadania a fim de mantermos viva a esperança.
A “sociedade civil global solidária”, todos nós que olhamos para o outro como um irmão, tem hoje perfeita consciência de que está a travar um combate à escala da Humanidade, da História contra a intolerância, contra a indiferença. Do resultado desse combate dependerá o futuro e talvez mesmo a sobrevivência da Humanidade.
Ou o movimento organizado dos cidadãos à escala planetária consegue encontrar as formas de influir pacificamente, com as suas ideias e os seus projetos sociais e humanísticos, nas atuais decisões políticas e financeiras, sempre coligadas, ou então haverá a temer uma explosão social violenta à escala mundial com múltiplos focos de instabilidade política e social (o que aliás já está a acontecer) com a consolidação de uma sociedade cada vez mais desumana, antidemocrática, militarizada e securitária onde pequenos núcleos de privilegiados viverão em guetos de luxo circundados pelas massas “hostis” dos excluídos, dos descartados porque considerados “inúteis” e até “culpados”.
As recentes explosões de violência na Grécia e o ataque cerrado à democracia na Hungria, demonstrando que o perigo espreita também desde já a Europa, devem fazer tocar a rebate os sinos das consciências na Europa e no Mundo: as pessoas já não acreditam nos seus governantes, estão cansadas, desalentadas e até mesmo revoltadas, e a mínima fagulha lançada por incendiários demagogos fará com que a nossa visão solidaria do mundo seja uma das primeiras vítimas do ostracismo e do obscurantismo que despertam.
A questão crucial que se põe hoje é que paradigma de sociedade existirá amanhã se a sociedade civil mundial solidária for incapaz de cumprir o seu histórico desígnio ou se defraudar as elevadas expectativas de melhorias social, cultural, ambiental e económica de que é hoje depositária criadas para largas franjas da população mundial.
Este é hoje o maior desafio da Cidadania Global Solidária consciente e responsável: não podemos falhar este desígnio pois é, talvez, a última oportunidade para os cidadãos globais inverterem a globalização financeira e militar em curso que sacrifica as essenciais componentes sociais, ambientais e culturais que uma verdadeira democracia e uma globalização humanista devem integrar, se pretender ser harmoniosa e sustentável.
Os cidadãos esclarecidos, atuantes e solidários são hoje, efetivamente, a grande Esperança. Oxalá não desistam do seu intento humanista e de justiça e se unam para o conseguir.
Ao Mundo da Cidadania Global cabe, como objetivo de salubridade mental, continuar esse discurso da responsabilização coletiva, de aproximação e de apaziguamento entre as pessoas e entre os povos.
É tempo de deixar de olhar o outro com indiferença, que sejamos tolerantes e que combatamos o espírito de ganância que nos cega. O egoísmo feroz, verdadeiro vírus mortífero, mata mais do que qualquer vírus da gripe.
É com visão solidária que o otimismo da vontade se poderá sobrepor ao pessimismo vigente. É a minha convicção mais profunda.