Como é que projetos como Família do Lado contribuem para a inclusão dos imigrantes?
A inclusão é biunívoca, não é apenas e só de quem chega, mas também do país e da sociedade que acolhe. Projetos como este proporciona um melhor conhecimento mútuo, facilitam a integração, a acabar com o preconceito e a discriminação. A exclusão é filha do desconhecimento e do receio que temos daquilo que não conhecemos e todas as iniciativas são úteis quando promovem o convívio são.
Segundo o lema do ACIDI, “Mais Diversidade Melhor Humanidade”, como é que cada um de nós pode enriquecer com a chegada de novas pessoas ao país?
Abrindo a porta, física ou simbólica, a outras culturas. Saindo da nossa zona de conforto e querendo saber mais daqueles que chegam, perceber que nós também somos um povo que parte – ultimamente cada vez mais – e que é muito bom quando chegamos a um país onde não conhecemos nada, nem ninguém, ter quem nos possa ajudar no caminho de adaptação a uma nova realidade, que é sempre fruto de um processo de coragem, mas também doloroso.
Portugal recebe bem os imigrantes?
Somos o segundo país, de um índice feito em 32 países, do ponto de vista de integração dos imigrantes – antes de nós está a Suécia. Dados do Eurobarómetro fazem de Portugal, apesar de estar num momento de crise, um dos países que melhor lida com a diversidade, que melhor aceita a pressão da diversidade e que menos sente uma ameaça na vinda de imigrantes.
Qual é o perfil do imigrante que chega ao nosso País?
Estamos a receber muito menos pessoas. O grande motor das migrações é a economia, como a nossa está frágil, Portugal não é, neste momento, um país atrativo. As maiores comunidades continuam a ser a brasileira, a ucraniana e a cabo-verdiana. Os brasileiros são os que têm uma maior rotatividade [nos primeiros três meses não precisam de visto]. A ucraniana veio em grande peso nos finais dos anos 1990, princípio de 2000, entretanto, houve uma ideia de que estão todos a ir embora – não é tanto assim. A maior parte integrou-se plenamente: organizou a sua vida, arranjou trabalho, comprou casa, até conseguiu subir na sua carreira profissional. Muitos deles dizem que crise foi quando, em 1991, caiu a União Soviética e, de repente, ficaram sem nada e por isso também têm uma forma de encarar a crise um pouco diferente da dos portugueses. Os cabo-verdianos também estão com alguma expectativa, embora Cabo Verde seja neste momento um país de oportunidades e os imigrantes altamente qualificados já ponderam, eventualmente, regressar. Os fluxos estão estáveis.
Os imigrantes são economicamente importantes para ultrapassar a crise?
Sem dúvida. Todos os mecanismos que têm para continuar de uma forma legal em Portugal passam por estarem no mercado de trabalho, fazendo as suas contribuições; são uma população jovem e ativa e por isso o seu contributo é muitíssimo elevado. Um estudo do Observatório de Imigração, de 2011, diz-nos que a Segurança Social, em 2010 – já descontando o que poderia ter gasto com os imigrantes na saúde e na educação – teve um superavit de 300 milhões de euros. Os imigrantes são, sem dúvida, a nossa riqueza e podem-nos ajudar a ultrapassar a crise, porque só todos juntos vamos conseguir dar a volta.
Qual será o futuro sustentável da imigração em Portugal?
Acredito que os países que mais se abrem à diversidade são aqueles que mais ricos se tornam, e a História tem-nos dito isso [os EUA, o Canadá e a Austrália foram construídos pela diversidade]. Portugal foi grande quando se abriu aos outros, o fechamento só nos vai trazer pobreza.