Mãe, posso sair da mesa? Não, nós ainda estamos a terminar. Avó, posso ir para o sofá? Não, o avô ainda está a comer. Pai, podemos ir brincar para o quarto? Não, o almoço ainda não acabou. Quantas vezes fizemos estas perguntas na infância? E quantas mais já respondemos em adultos?
A probabilidade de deixar os mais novos levantarem-se da mesa é grande, dada a sua insistência – comem acelerados, pois há videojogos à espera e telemóveis para interagir.
Se é verdade que das conversas dos mais velhos, pais e avós, ou mesmo dos amigos da família, saem tantas vezes grande histórias e algumas lições para a vida, agora um novo estudo vem avisar que ficar mais dez minutos à mesa só faz bem.
A investigação do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano analisou como fazer refeições familiares mais longas influencia a dieta e o comportamento alimentar das crianças.
A fruta e os legumes nem sempre são os mais desejados no prato, mas se as crianças permanecerem à mesa, em média, dez minutos a mais, totalizando meia hora, aumentam as porções de frutas e legumes ingeridos.
A análise contabilizou, em média, aproximadamente 100 gramas a mais de frutas e vegetais, o que equivale a cerca de uma das cinco porções diárias recomendadas de frutas e vegetais, uma maçã pequena ou um pimento pequeno, por exemplo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, por dia, pelo menos 400 gramas de hortofrutícolas ou as tais cinco porções, de preferência as sazonais.
Ao comer sopa confecionada com vários legumes, legumes crus, saladas com vegetais e frutas, frutas em sumos naturais ou crua e/ou com casca, tudo devidamente lavado, o organismo recebe nutrientes com baixo valor energético, ricos em vitaminas, minerais, compostos bioativos e fibras insolúveis.
Já o baixo consumo de frutos, hortaliças e legumes está entre os dez fatores de risco para o aparecimento de doenças e de morte prematura. A OMS estima que esse défice seja responsável por cerca de 19% dos cancros gastrointestinais, 31% da doença cardiovascular isquémica e por 11% dos enfartes do miocárdio.
No estudo, cujos resultados foram publicados na revista norte-americana Jama Network Open, participaram 50 pares de pais (cem adultos) e 50 filhos. Em média, as crianças tinham 8 anos (meninas e meninos em número igual) e os adultos 43 anos. Todos comeram um jantar típico alemão com pão de forma, carnes frias e queijos, além de frutas e legumes cortados em pedaços pequenos.
O tempo extra na mesa não fez com que as crianças comessem mais pão ou carnes frias e queijo, nem sobremesa. A fruta já cortada, por ser mais fácil de comer, tornou-se um atrativo.
“Este resultado tem uma importância prática para a saúde pública porque uma porção diária adicional de frutas e vegetais reduz o risco de doença cardiometabólica em seis a sete por cento. Para que tal aconteça, uma quantidade suficiente de frutas e vegetais deve estar disponível na mesa – pedaços pequenos são os melhores”, explica Jutta Mata, professora de psicologia da saúde na Universidade de Mannheim, na Alemanha.
E que tipo de novas rotinas podem os adultos passar a fazer na hora das refeições? Concentrar a atenção na refeição com maior probabilidade de sucesso, ou seja, não investir no tempo passado a tomar o pequeno-almoço, quando de manhã todos estão com pressa. Determinar que além das crianças, também os adultos ficam mais tempo à mesa. E, se o objetivo é que todos comam mais frutas e legumes, estes ingredientes devem estar disponíveis e por perto.
“A duração da refeição é um dos componentes centrais que os pais podem variar para melhorar a dieta dos seus filhos. Já tínhamos encontrado indícios dessa relação numa meta-análise de estudos sobre os componentes qualitativos de alimentos saudáveis nas refeições em família. Neste novo estudo experimental, fomos capazes de provar uma relação que, anteriormente, era apenas correlativa”, sublinha Ralph Hertwig, diretor do Centro de Racionalidade Adaptativa do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano.
Afinal, bastam apenas mais dez minutos, o tempo de duas ou três canções, para se obter uma boa dose de nutrientes e histórias para recordar.