Chega de manhã cedo, num pedalar lento de bicicleta, rumo ao armazém de aprestos nº 70, no renovado porto de pesca Vila do Conde/Póvoa de Varzim. O mau tempo deixou O Fugitivo em terra. Caso contrário, Wahludin, 30 anos, andaria no mar, desde as oito da noite da véspera até ao início da tarde deste dia, a acartar linguados, polvos, rodovalhos, robalos e o mais que viesse à rede ou caísse nas “gaiolas” armadilhadas da embarcação.
Trabalho duro, sim. Mas piores são os relatos das violências sofridas por conterrâneos nos barcos japoneses ou a vida deixada para trás, ao sabor do sobe-e-desce do camarão, com ganhos de miséria, ilustra Wahludin, com movimentos vigorosos das mãos e um roçar de dedos. Só o peixe “é bom em todo lado”, assume, sorriso rasgado, num português ensarilhado.