Pelos cerca de 200 quilómetros quadrados do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) já foram revelados mais de 80 locais e mais de 1 200 pedras gravadas que atestam a presença humana há pelo menos 80 mil anos, ou seja, recuando até aos neandertais. Não é fácil desbravar este território, mas os achados têm sido recompensadores. “O Côa é um laboratório vivo, continuamos com uma agenda científica intensa, e não só relativa à Pré-História”, atesta Aida Carvalho, presidente da Fundação Côa Parque, responsável pela gestão do parque e do impactante museu, inaugurado em 2010. “Estamos a passar por um excelente momento, acabámos 2022 com um crescimento de 38% do número de visitantes e nestes primeiros três meses de 2023 voltou a crescer 42%.”
Este é um exemplo raro de defesa do património. Quando foi anunciada a descoberta das primeiras gravuras, em 1994, por altura da construção da barragem hidroelétrica do Baixo Côa, todas as atenções se viraram para este território remoto. Em 1996, o governo liderado por António Guterres tomou a decisão audaz de abandonar a barragem e anunciou a criação do PAVC. Logo em 1998, a arte rupestre do vale do Côa foi classificada pela Unesco como Património Mundial, o processo de classificação mais rápido de sempre.