Uma equipa de investigadores da Universidade da Florida, em Gainesville, nos Estados Unidos, testou marcas de papel higiénico de todo o mundo, detetando substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) em todas elas. O estudo, publicado na revista científica Environmental Science & Technology, concluiu que o papel higiénico deve ser considerado como uma fonte potencialmente importante de PFAS que entram nos sistemas de águas residuais.
As PFAS são informalmente conhecidas como “químicos eternos”, por serem compostos sintéticos persistentes que não se degradam com facilidade. Elas podem ser encontradas em diversos produtos de higiene pessoal e também em embalagens de comida e em têxteis.
Estão ligadas a diversos problemas médicos graves, como um aumento do risco de cancro, uma diminuição da fertilidade, menor eficácia do sistema imunitário, doenças hepáticas e renais. Podem, igualmente, provocar atrasos de desenvolvimento das crianças.
Alguns fabricantes de papel higiénico utilizam PFAS como agentes humidificantes. E o papel higiénico reciclado também pode ser fabricado recorrendo a fibras provenientes de materiais que contêm estes “químicos eternos”.
Sabendo que o papel higiénico contaminado pode levar à poluição da água quando é lavado e enviado para estações de tratamento de esgotos, os investigadores começaram por testar 21 diferentes marcas da América do Norte, Europa (Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Irlanda, Liechtenstein, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido e Suíça), África, América Central, e América do Sul. Depois, analisaram lamas de águas residuais de oito estações de tratamento na Florida, tendo encontrado PFAS em todas elas.
Elas estão em todo o lado
Embora o estudo não mencione as marcas testadas, os cientistas sublinham que aquelas que utilizavam papel reciclado tinham quantidades de PFAS semelhantes às que não utilizavam. “Os nossos resultados sugerem que o papel higiénico deve ser considerado como uma fonte potencialmente importante de PFAS que entram nos sistemas de águas residuais”, lê-se no relatório.
A equipa, liderada por Jake T. Thompson, do Departamento de Ciências de Engenharia Ambiental da Universidade da Florida, focou-se principalmente no impacto do papel higiénico contaminado com PFAS em cursos de água, não tendo investigado os efeitos potenciais da sua utilização na pele. Mas sabe-se que as PFAS podem ser absorvidas através da pele.
“Não tenho pressa em mudar o meu papel higiénico e não estou a dizer que as pessoas devem deixar de usar ou reduzir a quantidade de papel higiénico que usam”, disse Jake T. Thompson, em comunicado divulgado pela universidade. “A questão é que estamos a identificar uma outra fonte de PFAS, o que realça que estas substâncias químicas são ubíquas.”
As PFAS parecem mesmo estar em todo o lado. Nos últimos anos, vários estudos têm detetado a sua presença em diversos produtos de consumo corrente. Em junho de 2021, uma equipa de investigadores da Universidade de Notre Dama, no Indiana, analisou 231 produtos de maquilhagem comprados nos Estados Unidos e no Canadá, descobrindo que 52% continham PFAS.
“Devemos estar atentos”, alertou, na altura, Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, “porque muitos dos PFAS não estão proibidos e nós podemos sempre encontrá-los no nosso caminho.”