Depois de 13 meses de trabalho intenso, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica cessou funções nesta semana, após a apresentação do relatório, que revela que pelo menos 4 815 crianças foram vítimas de abusos sexuais, em Portugal, ao longo dos últimos 70 anos. No entanto, Pedro Strecht, o pedopsiquiatra que coordenou a comissão independente, sublinha a importância de “não confundir a parte com o todo”. Como escrevem, nas notas finais do documento, os membros do órgão constituído por alguns dos especialistas mais reputados no estudo da infância, “a comissão captou a ponta de vários icebergues”.
A versão definitiva do relatório não inclui a identidade das vítimas e dos agressores, mas, até ao final deste mês, Pedro Strecht entregará, ao Ministério Público (MP) e à Conferência Episcopal Portuguesa (o órgão eclesiástico que iniciou o processo de investigação dos abusos sexuais), um anexo com a identidade de todos os padres envolvidos. Já depois da apresentação daquele documento, na Fundação Calouste Gulbenkian, o pedopsiquiatra afirmou, em entrevista à SIC Notícias, haver mais de 100 padres abusadores ainda no ativo. “Constituem um perigo real”, acrescentou. Na parte final do relatório, de 486 páginas, são feitas algumas recomendações, nomeadamente a criação de uma nova comissão, com membros internos e externos à Igreja. Strecht já fez saber, porém, que não está disponível para prosseguir, bem como todos os membros que integraram a sua equipa no último ano.