A ferramenta de Inteligência Artificial (IA) ChatGPT conseguiu ser aprovada num dos mais complexos exames de ingresso a uma profissão: o Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos. Para estas provas, os estudantes relatam passar até 12 horas por dia a estudar e as faculdades de medicina normalmente consagram algum tempo do horário dos seus alunos à preparação para este teste.
O ChatGPT, ou Chat Generative Pre-Trainer Transformer, é uma ferramenta de processamento de linguagem impulsionada pela IA criada para responder às perguntas dos utilizadores, como se se tratasse de uma conversa.
É capaz de responder a perguntas mesmo que nunca tenha visto uma determinada sequência de palavras antes, porque o seu algoritmo é treinado para prever que palavra surgirá numa frase com base no contexto do diálogo. O ChatGPT pode também responder a perguntas de seguimento, admitir erros e rejeitar perguntas inadequadas, diz a OpenAI, a empresa criadora.
Contudo, o chatbot está a gerar ampla controvérsia quanto aos riscos de fraude académica e plágio. Neste caso, médicos e cientistas estão a tentar determinar possibilidades e limitações relativamente ao que o ChatGPT poderia fazer pela medicina e saúde.
O pneumologista Victor Tseng criou, entretanto, um grupo de trabalho para trabalhar este tema, sendo coautor de um estudo que demonstrou que o ChatGPT provavelmente conseguiria passar no exame de licenciamento médico. “Ficámos tão impressionados e verdadeiramente estupefactos com a eloquência e o tipo de fluidez da sua resposta que decidimos que devíamos trazer isto para o nosso processo de avaliação formal e começar a testá-lo contra a referência de conhecimento médico”, explica Tseng, à CNN, referindo-se ao exame de licenciamento médico dos EUA.
Esta prova é considerada uma das mais difíceis de entrada em qualquer profissão porque não faz perguntas diretas com respostas que podem ser facilmente encontradas na Internet. O exame testa ciência básica e conhecimentos médicos e casos práticos, mas também avalia o raciocínio clínico, ética, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas.
A equipa do estudo utilizou 305 perguntas disponíveis ao público do exame de amostra de junho do ano passado. Nenhuma das respostas ou contexto relacionado foi indexada no Google antes de 1 de Janeiro de 2022, pelo que não fariam parte da informação sobre a qual o ChatGPT recebeu formação. “O ChatGPT conseguiu dar uma resposta precisa cerca de 60% do tempo com explicações convincentes no espaço de cinco segundos”. conta Tseng.
Se para uns a IA faz parte de um mundo otimista, para outros há que proceder com cautela. “Penso que vai ajudar, mas tudo na IA precisa de regras”, disse Linda Moy, professora na New York University, à CNN.
O ChatGPT está em treino contínuo para aumentar a precisão das respostas, mas pode fornecer respostas erradas. Como muitos modelos de IA, esta ferramenta tem limitações nos seus dados de formação, como parcialidade nos seus resultados, por exemplo
O ChatGPT não irá substituir os médicos, afirma Tseng, afirmando que, em última análise, o ChatGPT pode melhorar a prática médica da mesma forma que a informação médica em linha tem dado poder aos doentes e forçado os médicos a tornarem-se melhores comunicadores. “A IA está aqui. As portas estão abertas”, finaliza Tseng. “A minha esperança fundamental é que isso me torne e nos torne melhores como médicos”.