Um novo estudo, publicado na revista científica Journal of Experimental Psychology: General, demonstrou que o comportamento de chimpanzés adolescentes não é assim tão diferente do dos adolescentes humanos. “Os chimpanzés adolescentes enfrentam, em certo sentido, a mesma tempestade psicológica que os adolescentes humanos. As nossas descobertas mostram que várias características chave da psicologia adolescente humana também são vistas nos nossos parentes primatas mais próximos”, explica Alexandra Rosati, investigadora principal do estudo, em declarações à CNN.
Os chimpanzés entram na adolescência entre os oito e os 15 anos, e tal como os humanos, passam por rápidas mudanças durante este período: começam a formar novos laços com os seus pares, mostram uma agressão acrescida e competem pelo estatuto social.
Os investigadores conduziram duas experiências principais envolvendo 40 chimpanzés nascidos num santuário na República do Congo, em que, através de testes com recompensas alimentares, comparavam a impulsividade e a tolerância à gratificação tardia de chimpanzés adultos e adolescentes. No decorrer do estudo, os cientistas acompanharam reações emocionais e vocalizações dos chimpanzés, bem como analisaram amostras de saliva para testar os seus níveis hormonais.
O primeiro teste convidou tanto os chimpanzés adultos como os adolescentes a escolherem entre dois recipientes: um que tinha sempre amendoins e outro que tinha pepino ou banana. Estes primatas têm, geralmente, uma preferência maior por bananas do que por pepinos, pelo que ambos os grupos mostraram reações negativas semelhantes como gritos, gemidos e pancadas sobre a mesa quando o recipiente apresentava um pepino. Contudo, a equipa observou que os chimpanzés adolescentes tinham mais probabilidades de arriscar e escolher o recipiente que podia conter pepino do que os adultos, exibindo, assim, maior propensão para o risco.
O segundo teste examinou a gratificação tardia, em que o chimpanzé podia receber uma porção de banana imediatamente ou esperar um minuto para receber três porções. Durante esta experiência, os investigadores descobriram que tanto os chimpanzés adolescentes como os adultos escolhiam a recompensa tardia a um ritmo semelhante.
Comparando este estudo com experiências anteriores realizadas em humanos, os cientistas deram conta de que os adolescentes humanos são mais impulsivos do que os chimpanzés, sendo mais propensos a receber uma recompensa imediata. “A investigação anterior indica que os chimpanzés são bastante pacientes em comparação com outros animais. O nosso estudo mostra que a sua capacidade de gratificação tardia já está amadurecida numa idade bastante jovem, ao contrário do que acontece com os humanos”, acrescentou Rosati.
Além disso, enquanto os cérebros dos adolescentes humanos estão a crescer, nem todas as áreas cerebrais podem ser plena e otimamente utilizadas ao mesmo tempo. Embora o cérebro possa crescer em tamanho, este só termina o seu desenvolvimento cerca dos 20 anos. Na parte frontal do cérebro, encontra-se o córtex pré-frontal que está associado a processos cognitivos complexos e é uma das últimas regiões cerebrais a amadurecer. Esta zona organiza temporalmente o comportamento, a linguagem e o raciocínio, serve de base à planificação, à organização temporal e ao controlo emocional.
“Mesmo assim, isso não significa que os adolescentes não sejam capazes de tomar boas decisões a longo prazo”, acrescentou Hina Talib especialista em medicina e professora associada de pediatria no Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, “só tem de ser ajudados a prepararem-se para o sucesso”.