Fotógrafos, maquilhadores, cabeleireiros, elementos da produção, todos estavam a postos para um dia intenso de trabalho voluntário. Havia que encaixar na agenda 24 sessões fotográficas, feitas a famílias, sobretudo, mas também grupos de amigos ou pessoas sozinhas, atraídas pela promessa de um retrato profissional. “Pode custar centenas de euros, muitas pessoas não o conseguem pagar e têm outras prioridades, mas o impacto para a autoestima é inegável, alteram a imagem que têm de si próprias”, conta Tarcísio Pontes, fundador da Help-Portrait Lisboa. Desde 2011, altura em que aderiu ao movimento internacional, que guarda memórias de momentos especiais. “Desta vez, apareceu uma senhora sexagenária que não se maquilhava desde o casamento, há cerca de 40 anos. Quando se olhou ao espelho foi muito comovente”, recorda.
A iniciativa tem-se repetido, todos os anos, no primeiro sábado de dezembro, em vários locais de Lisboa, como se fosse um Natal antecipado. Para chegar às comunidades carenciadas, a Help-Portrait Lisboa conta com a ajuda das instituições particulares de solidariedade social que conhecem bem o terreno. Desta vez, fez parceria com a Associação Espaço Mundo, que espalhou a palavra pelos bairros da Alta de Lisboa e geriu as inscrições. Neste último sábado, dia 3, na Escola Dr. Nuno Cordeiro Ferreira, com a ajuda de 28 voluntários (entre eles, 8 fotógrafos), improvisou-se um estúdio de fotografia, com sala de caracterização, e não houve tempo a perder. Mais de 80 pessoas, distribuídas por 24 sessões, quiseram fazer um registo para a posteridade. Naqueles momentos de convívio, confiantes na imagem que projetavam e concentrados na melhor pose para o fotógrafo, esqueceram as dificuldades e os problemas. No final, levaram o retrato impresso e devidamente emoldurado. “Temos patrocínios que garantem o material e cobrem todas as despesas”, explica Tarcísio Pontes, que não tem dúvidas de que “a fotografia impressa tem uma força enorme, fica para a vida toda.”
O Help-Portrait nasceu em 2009, pelas mãos do fotógrafo norte-americano Jeremy Cowart, conhecido pelas imagens feitas a uma longa lista de celebridades como Sting, Taylor Swift, Kelly Clarkson ou Gwineth Paltrow. Queria retribuir à sociedade um pouco daquilo que tinha conquistado e virar a câmara para os mais carenciados. Desde então, o movimento cresceu exponencialmente e mais de 380 mil retratos foram feitos, envolvendo mais de 75 mil voluntários, em 67 países. “Estes retratos não são para um portfólio, site ou para venda. Trata-se de dar às pessoas que de outra forma não poderiam pagar pela fotografia, a oportunidade de capturar um momento, uma memória… e muito mais”, é descrito na página da iniciativa. Logo no primeiro evento, Cowart percebeu que “o que era tão simples e corriqueiro para nós (uma foto) tornou-se um símbolo de muito mais para outra pessoa. Representava dignidade, esperança, recomeço, amor”. Um lembrete do valor de cada um.