Irrita-se quando lhe chamam “ex-ministro” e ainda mais quando lhe chamam “ex-comentador”. Com a pasta da Educação, esteve quatro anos, no primeiro governo de António Guterres. Foi responsável pela enorme aposta de então nos jardins de infância e, por isso, ficou conhecido como o “pai” do pré-escolar. Na RTP, fez comentário político durante uns tempos. “Sobram” todos os outros anos que ficam de fora dos rótulos fáceis de uma carreira dedicada a servir, de uma vida de 80 anos. Conversador nato, Eduardo Marçal Grilo – que acaba de lançar Salazar e a Educação no Estado Novo (ver caixa) – correlaciona brilhantemente todos os grandes temas dos nossos dias, das migrações à inovação. E ainda é capaz de acrescentar um exemplo do ciclismo, do desporto e da II Guerra Mundial, assuntos em que se tornou especialista por paixão. Sem perder o norte da moderação – porque, no essencial, preza o equilíbrio das coisas.
Completou 80 anos. O caminho ainda não terminou, mas o que mais leva destas décadas?
Não é fácil responder, há muitas perspetivas… Em primeiríssimo lugar, a família, aquela onde nasci e a que construí, com a minha mulher, ao longo de 55 anos. Depois, os amigos (contam muito, para mim) e as pessoas extraordinárias que conheci, com as quais aprendi muito. Não se pode falar em prazer intelectual, porque não é bem isso, mas prazer em conviver, em estar com os outros. Sabe, gosto de falar – aliás, sou conhecido por falar muito. Quando eu era miúdo, o meu pai não conduzia e, nas viagens, tínhamos um motorista, o senhor Salvador, que dizia: “Este menino há de ser advogado!”