E se for em Portugal? É uma dúvida que nos sobressalta, no momento em que Vladimir Putin ameaça com o poderio nuclear russo, para responder ao aparente desaire militar convencional na Ucrânia. Ou perante o risco de uma explosão na central de Zaporijia atirar sobre a Europa uma nuvem de partículas radioativas. E o mesmo sobressalto pode justificar-se face à extensão da atividade das instalações nucleares de Almaraz, decidida por Espanha em 2020, cujo primeiro reator entrou em funcionamento há quatro décadas e que usa uma albufeira de um afluente do Tejo para refrigerar o sistema. A verdade é que a resposta do País a um acidente nuclear, que fizesse chegar ao território nacional altos índices de radioatividade, arriscar-se-ia a ser um tanto ou quanto atabalhoada, tal como no início da pandemia de Covid-19.
Na altura, entre diversos contratempos, foram notórias a falta de materiais de proteção, a desorientação sobre quem limitava as entradas nas fronteiras – se uma Administração Regional de Saúde do Norte ou o Ministério da Administração Interna –, a descoordenação entre o INEM e os bombeiros, e a sobreposição na montagem de hospitais de campanha. Esse cenário tem origem no mesmo tipo de estratégia nacional, de resposta a ameaças nucleares, radiológicas, biológicas e químicas (NRBQ), elaborada faz este mês 12 anos e que não se adaptou a determinadas mudanças no Estado – como a extinção dos governos civis pelo executivo de Passos Coelho, em 2011 – nem às novas exigências e aos novos contextos mundiais.