A história é antiga e real, tem semelhanças com a ficção ao ponto de confundir-se com ela, e inclui ingredientes ancestrais que rendem várias temporadas: sexo, medo e poder. Eva saiu de uma costela de Adão, pecou ao dar-lhe a maçã e ambos foram expulsos do Paraíso. Na Grécia Antiga, já se falava do kleitorís, ou “pequena colina”, mas o termo remonta a kleíein, ou “calar-se”. Supõe-se que o detalhe anatómico deveria permanecer no segredo dos deuses e cingir-se à condição de não dito. Ao longo dos tempos, foi sendo nomeado, quase sempre, de forma pouco abonatória. No meio clerical, chegou a ser a “teta do Diabo” e na academia deram-lhe o rótulo de “membro vergonhoso”.
Na gíria, fala-se, ainda, por metáforas inspiradas no reino vegetal – ervilha, dente de alho, grelo ou pevide –, usam-se expressões sugestivas como “ter o pito (cachimbo rústico) aceso” e o tema inspira rituais pagãos como o de “dar o Pito [doce típico inventado por uma freira gulosa] aos senhores”, em Vila Real, no dia de Santa Luzia, para deleite dos comensais.