A história de uma família do andebol: Pais que são ex-jogadores da Seleção e dois filhos fenómeno

Martim e Francisco Costa, os dois irmãos de 19 e 17 anos que “explodiram” nesta época no andebol português, são filhos de antigos praticantes de excelência, Cândida Mota e Ricardo Costa

A história de uma família do andebol: Pais que são ex-jogadores da Seleção e dois filhos fenómeno

Se os genes nasceram com eles, a experiência desde cedo os moldou no mesmo sentido: Martim e Francisco Costa, os dois irmãos de 19 e 17 anos que “explodiram”, esta época, no andebol português, ao serviço do Sporting e da Seleção Nacional, são filhos de antigos praticantes de excelência, Cândida Mota e Ricardo Costa, e começaram a frequentar os pavilhões ainda de fralda.

Faz agora um ano, desafiados pelo clube leonino, quis o destino que o pai voltasse a ser em simultâneo o treinador dos dois filhos. Tinha sido assim no FC Gaia e no Colégio dos Carvalhos, o clube/escola em Vila Nova de Gaia no qual os irmãos, seguindo as pisadas do pai, se iniciaram no andebol federado. Antes, porém, Martim e Francisco, mais conhecido por Kiko, já sabiam o bê-á-bá do desporto que lhes corre no sangue.

“Na alcofa, já iam ver os jogos. Lembro-me perfeitamente do Kiko a gatinhar no pavilhão em Algeciras, enquanto o Martim, com 3 anos, andava lá a correr com os filhos dos colegas do pai”, recorda Cândida Mota, referindo-se à cidade espanhola para onde Ricardo Costa foi jogar em 2005.

No ano seguinte, a família mudou-se do Sul para o Norte de Espanha, em virtude da transferência de Ricardo para o Ademar León, uma das equipas mais prestigiadas do país vizinho. Ao longo de cinco temporadas ali, antes do regresso a Portugal, tornou-se um hábito irem os quatro “brincar ao andebol”, nos tempos livres, para um complexo desportivo público: Ricardo e Kiko numa equipa, Cândida e Martim na outra. O mais novo com 3 anos, o mais velho com 6 (separam-nos dois anos e meio), e já andavam nas lides.

Na rua, mesmo sem bola na mão, os irmãos “iam o tempo todo a fintar e a saltar, como se estivessem a jogar”, partilha a mãe. À medida que cresciam, foi preciso ajustar a decoração em casa. Há fotografias do antes e do depois no primeiro apartamento em Gaia – com bibelots e jarras na sala e sem vestígio deles. “Tivemos de tirar tudo e, mesmo assim, partiram a mesa de centro, de vidro. Tornou-se um campo aberto para se jogar”, ri-se Ricardo.

Por falar em vidro, Kiko intervém para valorizar um pequeno móvel, feito do frágil material, que ainda hoje resiste intacto. “Tem a forma de uma pequena baliza, e eu usava-o para treinar ‘roscas’”, diz, aludindo a um tipo de remate em que a bola ganha efeito depois de tocar no solo. Numa parede exterior, ao lado da casota do cão, desenharam uma baliza em tamanho real, acrescenta Martim.

Mais recentemente, a pandemia Covid-19 parou o desporto jovem em Portugal, mas eles mantiveram-se ativos: trabalho de ginásio em casa e treinos com o pai no Colégio dos Carvalhos, onde Ricardo Costa foi coordenador de andebol durante dez anos. “Para muitos miúdos foi mau, mas para nós foi ótimo”, nota o treinador.

Furor na Seleção

No passado mês de abril, em estreia pela Seleção Nacional A, Martim e Kiko tiveram um impacto tremendo na eliminatória final de acesso ao Campeonato do Mundo, frente aos Países Baixos. Kiko foi logo utilizado no primeiro jogo, em Portimão, mas Martim não saiu do banco na derrota por 33-30, que deixava Portugal em apuros para a segunda mão, em Eindhoven.

À chegada, ainda no aeroporto, o selecionador Paulo Jorge Pereira informou Martim de que estava a contar lançá-lo a titular para o tudo ou nada. A resposta foi demolidora: melhor marcador do jogo, com dez golos, vitória por 35-28 e presença garantida no Mundial.

“É incrível”, escreveu ele ao pai, após uma exibição em que quase parecia estar a jogar no parque com a família, tal a naturalidade dos movimentos. “No desporto como na vida, uma pessoa não pode ter medo das adversidades. Tenho muita confiança em mim, e isso ajuda muito”, comenta, a propósito, o jovem lateral-esquerdo.

O selecionador ignorou o fator experiência e deu também a titularidade a Kiko, talvez influenciado pelo desempenho dos irmãos, uns dias antes, no duplo confronto entre o Sporting e o Magdeburgo, nos oitavos de final da Liga Europeia. Martim e Kiko assinaram 33 dos 64 golos dos leões nessa eliminatória, perdida por um golo para os novos campeões da Alemanha, a Liga mais forte do mundo – e que o Benfica haveria de superar, de forma brilhante, em Lisboa, na final da referida competição europeia.

Na alcofa, já iam ver os jogos. Lembro-me perfeitamente do Kiko a gatinhar no pavilhão e do Martim a correr com os filhos dos colegas do pai

Cândida Mota, mãe e antiga internacional de andebol feminino

“Estava em causa o apuramento para o Mundial, mas, quando entro em campo, esqueço tudo e só quero jogar andebol e ajudar a minha equipa a ganhar”, salienta Kiko, que, apesar da tenra idade, não se esconde nos momentos de maior aperto.

Nesse aspeto, são réplicas do pai. Um dos melhores pontas-direitas da história do andebol nacional, Ricardo Costa deixou como imagem de marca uma competitividade que fazia faísca com os adversários. Os dois filhos ainda não eram nascidos quando, no Euro2000, nos últimos segundos do embate frente à Eslovénia, ele fintou o melhor jogador adversário e marcou o golo da primeira vitória da Seleção masculina em fases finais de europeus e mundiais.

Quem o topou bem, ainda em criança, foi José Magalhães, ex-treinador e hoje diretor da secção de andebol do FC Porto. “Ele era professor no Colégio dos Carvalhos e viu-me jogar futebol. Eu tinha 11 anos, varria tudo à minha frente, e ai de quem me tirasse a bola! Digamos que era um puto com energia a mais. Chamou-me a meio da aula e convidou-me para o andebol”, rebobina Ricardo.

“Muito disso nasce connosco, mas com um treinador que nos leve ao limite ainda dá para melhorar muito essa característica”, acredita Martim, ao passo que Kiko é mais terra a terra: “Eu acho que nasce com a pessoa e noto isso em mim. Sou muito parecido com o meu pai.” Sempre que o têm como adversário, seja no que for, sabem que não vale a pena contar com facilitismos.

Convite irrecusável

Hoje com 45 anos, Cândida e Ricardo conheceram-se aos 17, apresentados por um árbitro de andebol. Uma semana depois, começaram a namorar. Ela ainda jogava no Madalenense, mas não demoraria a chegar ao Colégio de Gaia, equipa de topo no andebol feminino. Ele estava no Boavista e em breve saltaria para o FC Porto. Não muito tempo depois, seriam chamados à Seleção A, que Cândida representou em 33 ocasiões – até se retirar, aos 25 anos, quando ficou grávida de Martim – e Ricardo em 147, sendo o oitavo mais internacional de sempre.

Numa deslocação pela Seleção, Cândida Mota viveu a experiência mais insólita. Não se recorda se estariam no Azerbaijão ou na Turquia, mas não esquece que a queriam trocar por camelos. “No aeroporto, um senhor que estava lá com a mulher foi falar com o selecionador e o médico, que acharam graça e deram-lhe conversa. Foi a risota geral na comitiva, eu é que não estava a achar piada nenhuma, porque às tantas ele já oferecia 500 camelos para me levar”, conta, agora bem mais divertida, esta professora de Educação Física que suspendeu a atividade para acompanhar a família nesta nova etapa, em Lisboa.

Após a passagem pelo FC Porto como adjunto e depois, entre 2015 e 2017, como treinador principal, Ricardo Costa não hesitou em dar o sim ao Sporting, no verão passado. Dirigia o Artística de Avanca, e o convite era extensível aos filhos, então ligados contratualmente ao FC Porto. Ao pagar as cláusulas de rescisão, num total de €250 mil, o rival leonino mostrava que a aposta na família Costa seria total. Irresistível, pensaram Martim e Kiko.

Comprometeram-se todos por quatro anos, e este primeiro terminou com a conquista da Taça de Portugal, na sequência das vitórias sobre o Benfica e o FC Porto (esta após dois prolongamentos e com 13 golos de Kiko).

No imediato, os irmãos ambicionam colecionar mais troféus ao lado do pai no Sporting – como o de campeão nacional que “escapou” para o FC Porto – e um dia experimentar uma das grandes ligas europeias. É inevitável, mas tudo a seu tempo – além do mais, se Martim já entrou na universidade, com matrícula congelada, Kiko ainda vai para o 12º ano. Também acreditam que, no futuro, será possível festejar um título pela Seleção. Querem tudo a que têm direito.

“Eles divertem-se a jogar”, resume a mãe. “São felizes assim, e isso é o mais importante.” Por agora, os irmãos apontam para a conquista do Europeu de Sub-20, que vai decorrer em Gondomar, Matosinhos e Gaia, entre 7 e 17 de julho. Sim, porque Martim ainda é júnior e Kiko juvenil. Se ainda não os conhece, ora aqui tem uma bela oportunidade.

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