Uma onda atmosférica de gravidade acústica, provocada pela brutal explosão do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, no Pacífico Sul, no passado dia 15 de janeiro, esteve na origem do tsunami à escala global que daí resultou. A conclusão é de um grupo de investigadores do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Através de uma combinação de dados sobre o nível do mar, atmosféricos e imagens de satélite de vários pontos do globo, aos quais aplicaram modelos numéricos e analíticos, os cientistas demonstraram que “o tsunami foi impulsionado por uma fonte em constante movimento na qual as ondas de gravidade acústica irradiadas pela erupção excitam o oceano e transferem para ele energia por via da ressonância”, lê-se no estudo, publicado na Nature sob o título “Global Tonga tsunami explained by a fast-moving atmospheric source”.
A coincidência entre o tsunami e o tempo de chegada dessas ondas de gravidade acústica confirma, segundo os investigadores, que existiu uma relação direta entre os dois fenómenos. “A violenta explosão do vulcão originou ondas atmosféricas percetíveis e um tsunami global excecionalmente rápido”, comenta o autor principal, Rachid Omira, investigador do Instituto Dom Luiz e do IPMA.
O geofísico dá como exemplo o facto de o tsunami ter atingido a costa portuguesa, do lado oposto do planeta (a mais de 17 mil quilómetros de distância), “dez horas antes do esperado”, cruzando oceanos e provocando ondas marítimas, de dimensão surpreendente, tem territórios longínquos.
“Foi a primeira vez que um tsunami desencadeado por um vulcão foi registado globalmente por instrumentação moderna e densa em todo o mundo, proporcionando uma oportunidade única para investigar os processos de acoplamento ar/água na sua geração e propagação”, refere Omira.
É comum as erupções vulcânicas provocarem tsunamis, mas já é mais raro terem efeitos transoceânicos. Em Portugal, de acordo com informação do IPMA divulgada logo na altura, observaram-se “alterações ao nível do mar” nos Açores, na Madeira e em território continental. Em Ponta Delgada, as águas subiram 40 centímetros, em Peniche 39 cm e no Funchal 20 cm.
“Este tsunami propagou-se pelos vários oceanos, incluindo o Atlântico, tendo-se observado variações do nível do mar em praticamente todas as estações maregráficas em operação na costa portuguesa, variações essas com amplitudes inferiores a meio metro”, informou, então, o IPMA
A erupção do vulcão submarino, a poucos quilómetros de Tonga, lançou uma nuvem de cinzas e gases para o céu que atingiu 20 quilómetros de altura. As ondas do tsunami provocaram danos na Nova Zelândia, Chile, Peru e EUA.