Em maio, Darren Harrison, um passageiro sem experiência em aviação, conseguiu pousar um pequeno avião na Flórida, após o piloto sofrer um incidente médico. O Aeroporto Internacional de Palm Beach assistiu, assim, a um raro acontecimento na história da aviação. O controlador de tráfego aéreo Robert Morgan, que também é instrutor de voo, ajudou o passageiro a pousar o Cessna 208.
Numa entrevista dada ao programa Today da NBC, Harrison relatou a situação vivida dentro na aeronave. “Percebi que tínhamos entrado num ritmo muito rápido e quando me cheguei à frente, tudo o que vi foi água. Agarrei nos controlos do avião e comecei a puxar e a subir os controlos”, explicou.
“Ou fazes o que tens a fazer para controlar a situação ou morres”, relatou ainda o empresário de 39 anos à NBC, que estava a regressar de um viagem nas Bahamas, juntamente com um colega e o piloto. O desfecho não podia ter sido melhor e profissionais da área consideraram que Harrison fez um trabalho muito bom.
Simuladores e tutoriais são a chave para o aumento da confiança
Para Douglas Moss, ex-piloto da United Airlines e instrutor de voo certificado, existem três fatores que possibilitam a difícil tarefa de pousar um avião. Se a primeira condição é o passageiro perceber que está em situação de perigo de vida, o segundo fator relaciona-se com a ajuda dos controladores de tráfego aéreo. Moss apontou ainda para a aptidão natural para controlar dispositivos mecânicos. “Por exemplo, ser capaz de se adaptar rapidamente e entender as relações entre os dispositivos de controlo do voo, como os controlos do leme e do acelerador e as suas respostas aerodinâmicas”, explicou, em entrevista à CNN.
Este é o cenário ideal para pequenos aviões, uma vez que são relativamente intuitivos. Em aviões maiores, como os comerciais, as coisas podem complicar-se, alertou o piloto de aeronaves Boeing 767 Patrick Smith. “Um não-piloto não teria a menor ideia de como trabalhar com os rádios de comunicação, quanto mais voar e aterrar o jato”.
Embora a situação não seja recorrente, o exemplo mais próximo de uma tentativa de aterragem de um avião de passageiros foi em 2005, na Grécia. Smith relatou o episódio à CNN Internacional. “Um comissário de bordo tentou assumir os controlos do Boeing 737, depois de os passageiros e da tripulação ficarem inconscientes devido a uma falha de pressurização. O avião ficou sem combustível e despenhou-se”. O acidente do voo 522 da Helio Airways provocou a morte às 121 pessoas a bordo.
O escritor e piloto confessou, também, que “as probabilidades [de sermos bem-sucedidos] ainda estão muito contra nós, mas os resultados variam de pessoa para pessoa e de avião para avião”.
Uma vantagem para cenários deste género é a utilização de simuladores de voo, defende Smith, já que estes programas podem salvar o dia, adiantando que “não são totalmente realistas (…), mas podem fazer diferença de vida ou de morte”.
A Internet apresenta um conjunto de recursos para quem quer saber mais sobre este tema. Uma simples pesquisa de “como pousar um avião”, bem como vídeos detalhados em várias plataformas sociais, pode aumentar a confiança. Um estudo levado a cabo pela Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, confirmou a tese de que assistir a um vídeo de quatro minutos no Youtube de dois pilotos a realizar um pouso de emergência faz com que as pessoas se sintam mais capazes de o fazerem sozinhas. Kayla Jordan, uma das autoras do estudo, revelou que “as pessoas que assistiram ao vídeo estavam 28,6% mais confiantes nas suas capacidades de pousar um avião sem morrer”.
A investigação avançou, ainda, que os homens se apresentaram mais confiantes do que as mulheres em cerca de 12%. “Esta descoberta está de acordo com o trabalho que descobriu a tendência de os homens terem mais confiança nos seus conhecimentos e capacidades do que as mulheres, tal como numa corrida ou num mergulho”, referiu Jordan.