Estamos numa noite de junho de 1974, no seminário da Ordem dos Combonianos na Maia, quando o sono de José Milhazes, aluno interno do 5º ano, é agitado por um poderoso sonho. “Apareceu um homem, que devia ser Deus, e que me disse: ‘Vai-te embora, não estás aqui a fazer nada’”, lembra hoje, aos 63 anos. “E no dia seguinte fui-me embora”, conta. “Entendi que era uma mensagem – e foi a única vez em que acreditei em sonhos.”
Terminou assim, para o rapaz de 15 anos, o desejo de ser missionário, “não padre de paróquia”, que alimentava desde pequeno. Pela humilde casa paterna, na Póvoa de Varzim, cheia de fervor religioso, passavam familiares emigrados no Brasil e em África. “Os relatos que eles traziam, e que nós ouvíamos, é que despertaram em mim essa ideia de ser missionário: ir para África ou para a América Latina e levar a palavra de Deus àquelas alminhas, como se dizia na altura”, recorda. Mas, ao terceiro ano como seminarista dos Combonianos, aquele sonho abrupto mudou-lhe o rumo da vida.