Jorge Falcato Simões nem sequer teve tempo de reagir. Assim que colocou o pé na Rua do Loreto, atraído pelo som dos tiros, apercebeu-se da presença de três agentes da PSP que, de armas de fogo nas mãos, encabeçavam a manifestação do grupo de nacionalistas com quem, minutos antes, militantes antifascistas tinham trocado agressões, pedradas e, segundo testemunhas, balas de pistola. Diante do futuro deputado do Bloco de Esquerda (entre 2015 e 2019), uma multidão corria, confusa, de um lado para o outro, apenas preocupada em escapar à mira dos polícias. O agente Amadeu Cunha destacava-se de espingarda G3 em punho. Com o Largo do Calhariz à vista, e sem aviso prévio, “varreu” a rua de rajada – a bala que o destino reservara a Jorge Falcato perfurou-lhe o peito, atingindo-lhe a coluna, não o matando por milímetros, mas deixando-o refém de uma cadeira de rodas para o resto da vida.
O balanço final dessa tarde – “esquecida” pelo País – seria de um morto e vários feridos. José Jorge Morais, 18 anos, estudante de Medicina, membro da União da Juventude Comunista Revolucionária (UJCR) e ativista da UDP, seria atingido por uma bala disparada pela G3 e morreria no Hospital de S. José.