As maiores características dos Bulldogs Ingleses são também os seus maiores problemas: o focinho curto e achatado, a mandíbula inferior saliente e o formato de corpo desta raça fazem com que tenham inúmeros problemas respiratórios, doenças de pele e ouvidos e distúrbios oculares. Um novo estudo do Royal Veterinary College afirma mesmo que esta raça tem o dobro dos problemas dos outros tipos de cães.
A questão da saúde deve prevalecer, afirmam os autores do estudo, que acrescentam que os donos devem “parar e pensar” antes de comprar ou adotar um cão desta raça. O Bulldog já foi uma raça musculosa e atlética, mas ao longo dos anos tornou-se um animal de estimação popular no Reino Unido, que quanto mais achatado for, mais fofo é.
“Todo o cão merece nascer com uma saúde inata e boa, por ter uma capacidade natural de respirar livremente, piscar completamente, exercitar-se facilmente, ter uma pele lisa e saudável, acasalar e dar à luz”, argumenta Dan O’Neill, principal autor do artigo e Professor Associado de Epidemiologia de Animais de Companhia.
O especialista afirma ainda que sabe que os cães desta raça são fofos, “e isso é totalmente compreensível e, de facto, muito difícil de combater como humano” diz. Mas “o que consideramos fofo do lado de fora, se estivéssemos a viver a vida como aquele cão, é tudo menos fofo. É, em muitos casos, uma vida inteira de sofrimento”.
Os veterinários e autores do estudo compararam a saúde de mais de 2 mil Bulldogs com as amostras de mais de 22 mil cães de outras raças para retirarem informações sobre todos os distúrbios registados em cada cão durante um único ano. No geral, os Bulldogs Ingleses tinham o dobro da probabilidade de ter um ou mais distúrbios do que outros cães – dos 43 problemas identificados, esta raça tende a sofrer de 24 destes (55,8%).
As queixas de saúde mais comuns foram infeções nas dobras da pele (38 vezes mais provável do que em outros cães), um distúrbio ocular conhecido como olho de cereja (26 vezes mais provável), protrusão da mandíbula inferior (24 vezes mais provável) e problemas respiratórios (19 vezes mais provável).
“Esta nova pesquisa fornece fortes provas de que os Bulldogs modernos continuam a ser afetados por muitas doenças relacionadas com as suas formas corporais, a maioria das quais é reconhecida há mais de um século. Confirma-se assim a necessidade de seguir o exemplo de criadores mais responsáveis que priorizam a saúde nas decisões de criação para melhorar o bem-estar desta raça popular e icónica no futuro”, nota Alison Skipper, coautora do estudo e historiadora veterinária.
Bill Lambert, responsável pelo departamento de Saúde e Bem-Estar do The Kennel Club, a maior organização britânica dedicada à saúde e treino de cães, explica que há um número crescente de Bulldogs criados sem qualquer acompanhamento veterinário e com pouca consideração pela sua saúde e bem-estar.
“Uma abordagem colaborativa para lidar com essas questões é crucial. Devemos continuar a trabalhar em conjunto com criadores, veterinários e organizações de bem-estar para reduzir e, finalmente, eliminar os problemas de saúde enfrentados pelas raças, bem como reduzir a demanda em massa desses cães”, relata Lambert.
No futuro, o Bulldog Inglês deve tornar-se reconhecido por ter um rosto mais comprido, cabeça menor e pele sem rugas, representando uma formação mais moderada e saudável, analisam os autores.
A criação desta raça já é proibida em vários países e, de acordo com um grupo de trabalho especializado de veterinários, incluindo o Royal Veterinary College, o mesmo pode acontecer no Reino Unido se nada for feito.