Sem grandes manifestações, sem grandes sinais de oposição às medidas de contenção e com uma grande maioria da população a respeitar as regras, os portugueses são uns dos povos que mais tolera as restrições impostas pelo Governo e pela pandemia, destaca a revista americana. Porquê? Porque os cidadãos confiam no Governo, conclui.
Num artigo publicado esta semana, a Forbes descreve como as ruas de Portugal estão calmas e sem grandes azáfamas. Esta “sensação de relativa tranquilidade”, dizem, é resultado de “uma taxa de vacinação muito alta contra a Covid-19”. “Portugal surgiu aparentemente do nada para se tornar um dos líderes mundiais na vacinação de Covid-19”.
Esta conquista – que foi conseguida pela ” liderança enérgica do chefe da task-force nacional de vacinação” – é um dos fatores que tornam o país num sítio pacifico no meio de uma pandemia, dizem. Outro é a presença “relativamente pequena de grupos antivacinas” em Portugal.
“Mas não se trata apenas de vacinação”, afirma a jornalista. “As filas longas e perfeitamente espaçadas nos muitos centros de teste gratuitos; o uso aparentemente universal de máscaras em espaços fechados; a prevalência de uso de máscara ao ar livre; a disposição de muitas empresas de recusar clientes por não terem provas de testes recentes – tudo indica um conforto casual com as restrições de pandemia que mudam com frequência, sem a tensão e o ceticismo que têm afetado muitas outras partes da Europa.”
Isto resume-se, segundo o artigo, “a uma forte confiança no Governo”. Esta afirmação é sustentada por um estudo dos cientistas políticos Elisabetta De Giorgi e José Santana-Pereira, onde se analisou o excepcionalismo de Portugal durante o período pós-Troika (2015-19) em relação a três outros países do sul da Europa, Grécia, Itália e Espanha. Os dados mostram “que a estabilidade governamental foi maior em Portugal, não houve revolução no sistema partidário e a confiança política recuperou mais rapidamente do que nos outros países”, lê-se no estudo.
Um outro estudo desenvolvido por Gisela Gonçalves, Valeriano Piñeiro-Naval, e Bianca Persici Toniolo, elaborado entre outubro e novembro de 2020, revelou também que a maioria das pessoas considera a comunicação do governo “oportuna e confiável”. A análise demonstra ainda que os portugueses confiam mais nas autoridades médicas do que nas políticas e poucos confiavam nas informações veiculadas nas redes sociais.
No mesmo sentido, num inquérito realizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos entre março e maio de 2021 , 86% dos inquiridos consideraram que as restrições à liberdade relacionadas com a Covid se justificavam; no entanto, 43% acreditavam que a democracia enfraqueceu.
A conclusão a que se chega é que o sucesso de Portugal, refere o artigo, “não é fácil de replicar”. A história e o contexto em que cada país está inserido é diferente da realidade portuguesa e, explicam, o “relativo consenso pode ocorrer às custas da dissidência produtiva”.