Numa época que se nos apresenta como um momento de amor, felicidade, união e paz, porque é que muitos não conseguem sentir-se desta forma e chegam inclusivamente a sentir emoções opostas como tristeza, frustração e até revolta?
Antes de tudo é importante compreender que não é incomum isto acontecer e que não faz de ninguém “estranho” ou “inferior”. É relativamente comum ouvirmos pessoas com este sentimento e com esta narrativa. Contudo, cedermos a esta argumentação e deixarmo-nos levar por sentimentos menos positivos sem refletirmos na sua génese pode não ser o mais produtivo.
Por norma, estes sentimentos e narrativas vão sendo ancoradas em argumentos que pouco se ligam à componente religiosa. É pouco comum ouvirmos dizer que alguém não gosta do Natal, usando como explicação a não crença religiosa. Por seu lado, é mais frequente ouvirmos razões que se relacionam com o consumismo ou com a suposta “falsidade” entre amigos ou famílias. Mas, serão realmente estas as razões? E se forem, porque não construir um significado e um comportamento individual em relação ao Natal? Não temos que seguir os rituais que outros nos impõem, embora possamos refletir se poderão fazer sentido também para cada um de nós. Construir os próprios significados, os próprios rituais e novas memórias é uma forma de experienciar o Natal de forma positiva.
O Natal pode ser visto como um período de reflexão, até mesmo individual e, nele podemos pensar sobre as razões que nos levam a sentir emoções como a tristeza, a qual nos parece pouco consistente com aquilo que “deveríamos sentir”. Habitualmente, o Natal surge associado à família, mas nem todos têm uma família com quem o possam partilhar e, por si só, isto já é um motivo suficientemente válido para estas emoções contraditórias. Além disso, mesmo que essa família exista, nem sempre é vista como um porto seguro ou como um “local” onde queiramos estar no Natal. Ver todos correr para as famílias quando alguém não o pode fazer pode ser motivador de uma revolta interior que muitas vezes é projetada para o exterior.
O que nos custa muitas vezes não é a suposta falsidade (será que é efetivamente falsidade ou os corações ficam mais moles neste época?), mas sim a impossibilidade de também vivermos e sentimos o mesmo, sobretudo quando todos à nossa volta o conseguem viver.
Não nos rendamos a explicações simples sobre o tema, mas também não julguemos quando alguém nos diz não gostar do Natal, já que muitas vezes esse não gostar guarda mágoas e histórias de vida difíceis. Muitas destas pessoas gostariam de o poder sentir, mas não têm essa oportunidade.
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