Se O Lar do Comércio fosse um filme teria bola vermelha no canto do ecrã e seria desaconselhável a pessoas sensíveis. Neste caso, bastou a realidade.
Tal como outras, a história de Maria Arminda parecia desenhada para um final feliz, mas acabou ligada a uma das maiores tragédias humanas ocorridas numa IPSS. Ela foi uma entre 17 residentes d’O Lar do Comércio que faleceram ainda antes da pandemia, entre 2017 e o início de 2020, mortes pelas quais o Ministério Público (MP) responsabiliza a instituição, o ex-presidente José Moura e a antiga diretora Marta Soares. Quatro anos de investigações a partir de denúncias de maus-tratos e relatórios oficiais resultaram na imputação de 67 crimes aos visados. Embora, segundo o MP, possuísse meios financeiros para uma gestão exemplar, o lar infligiu sofrimento e tratamentos indignos aos seus utentes, pôs idosos em risco de vida e contribuiu para a morte de outros.