Os cientistas já estiveram mais convencidos de que a agressividade das orcas ao se acercarem de certos barcos, ao largo da costa portuguesa e da espanhola, se explica com a curiosidade destes animais da família dos golfinhos e a sua apetência para brincar. Do ano passado para este, tal comportamento disruptivo, que se supunha excecional, tornou-se um hábito para uma subpopulação muito específica de orcas. “O que parecia um divertimento espontâneo passou a ser a rotina”, aponta o biólogo marinho espanhol Alfredo López Fernández, um dos 14 especialistas ibéricos que criaram o Grupo de Trabalho da Orca Atlântica (GTOA) para investigar um fenómeno nunca antes visto.
Os primeiros relatos surgiram no verão de 2020. Orcas que não se limitavam a acompanhar os barcos, seduzidas pela ondulação, mas que investiam contra os cascos e, sobretudo, contra os lemes de veleiros, ao ponto de os danificarem e de obrigarem as tripulações a emitir um SOS de reboque, depois de ficarem à deriva. Mesmo quando não provocam danos, os embates laterais e a consequente mudança de direção das embarcações, quase sempre com menos de 15 metros, parecem exercer um fascínio invulgar nestes animais que podem atingir as dez toneladas de peso. “A velocidade incita-os e, ao interferirem no movimento dos barcos, é como se fossem a conduzir”, ilustra Alfredo Fernández, também dirigente da CEMMA (Coordenadora para o Estudo dos Mamíferos Marinhos, uma ONG galega a que o governo espanhol encomendou um estudo para melhor compreender esta realidade.
