Judite de Sousa tem mais de 40 anos de jornalismo, sempre à frente das câmaras, como pivot ou repórter enviada especial nos grandes acontecimentos nacionais e internacionais. Começou na RTP, onde apresentou o Telejornal durante duas décadas, e transitou para a TVI, em 2011, como diretora de informação. Saiu em 2019, durante o processo de negociação da venda do grupo, para regressar agora como aposta principal do canal liderado por Nuno Santos, no horário nobre das 21h, onde assina um jornal de autor duas semanas por mês, em alternância com Júlio Magalhães.
O seu rosto abriu a emissão da CNN em Portugal. Acusa o peso da responsabilidade? Ao fim de quatro décadas de televisão, ainda sente borboletas na barriga?
O jornalismo e a minha vida cruzaram-se permanentemente. São já 40 anos de experiências nacionais e internacionais. Por isso, abrir as emissões da CNN Portugal é, para mim, não só um assunto profissional, mas uma questão de vida. Digamos que é um recomeço. E recomeçar é darmos uma nova oportunidade a nós próprios. Com confiança, responsabilidade e espírito de equipa.
O que trazem de novo os norte-americanos da CNN ao jornalismo que se faz em Portugal? Tem aprendido com eles, neste formato de franchising? Qual o nível de intervenção que têm?
Os norte-americanos trazem-nos a sua marca, a sua matriz profissional. As suas normas e práticas editoriais. Devemos ter humildade para aprender com eles.
Vai assinar um noticiário de autor. O que é isso? E o que tem de diferente face aos noticiários da noite tradicionais?
Um noticiário de autor é um jornal conceptualizado pelo apresentador que assume simultaneamente a coordenação editorial. É um modelo muito experimentado nos países de influência anglo-saxónica. Na Europa, verificamos que os pivots têm responsabilidades editoriais nos jornais que apresentam. É uma forma de envolvimento e de responsabilização.
Consegue-se chegar às elites a falar também para dez milhões de portugueses, ou é preciso optar?
O jornal da CNN tem a duração de 50 minutos em que convergem as principais histórias do dia, reportagens diferenciadoras de curta duração, análise pontual dos acontecimentos e protagonistas, debates e entrevistas com uma duração dependente das expectativas de informação do público em relação aos factos e “atores” da vida pública.
Mas notícias estão em todo o lado gratuitamente, somos invadidos por conteúdos noticiosos 24 horas por dia. Neste panorama mediático, qual é o espaço para os canais de informação de cabo?
Quem quer estar bem informado tem nos canais de notícias acessos privilegiados. Tão ou mais importante do que a divulgação noticiosa de um acontecimento, sob mediação jornalística, é a forma como interpretamos a realidade. Nesta era da globalização digital, os média tradicionais, como a televisão, são importantes para conhecermos e compreendermos o que se passa à nossa volta. A narrativa audiovisual pode ser uma fonte de mais e melhor conhecimento.
Voltou à empresa de onde, depois de um processo atribulado, saiu há exatamente dois anos. Sente este retorno como um regresso a casa ou a outro sítio diferente? Nessa altura, saíram notícias de que a Cofina, então na corrida à compra da Media Capital, tinha interesse em afastá-la. Disse que saiu por “sua vontade”, mas foi um processo doloroso?
Saí da Media Capital em 2019. Regresso em 2021 a uma empresa que tem uma nova estrutura acionista e direções renovadas. A palavra “doloroso” não faz sentido na minha vida profissional. Não a utilizo e não a sinto. Em mim, a palavra tem um outro alcance e uma outra dimensão. Os portugueses sabem do que falo. Isso é que é importante.
O mundo da televisão, com tamanha exposição, exacerba os egos. Os jovens que chegam às redações querem todos ser pivots. Isso dificulta os processos de trabalho?
A transição das universidades para as redações exige um grande acompanhamento nos processos de integração dos mais novos. Há que comunicar o gosto pelo género mais nobre do jornalismo que é a reportagem. O ecrã é uma dimensão do jornalismo. O mundo da televisão não é tão glamoroso quanto se imagina.
Tem 60 anos. Sente que a sociedade é demasiado exigente com as mulheres que, pelas suas profissões, envelhecem à frente das câmaras ou num palco? É também um processo de autoaceitação?
A idade tornou-se um termo de referência. Há pessoas com 40 anos que estão envelhecidas e há outras com mais idade que estão em boa forma. No caso do jornalismo televisivo e da CNN em concreto, os apresentadores em prime-time e os correspondentes internacionais têm quase todos mais de 60 anos. Em Portugal, a média de idades dos apresentadores das 20 horas está nos 56 anos. Não há grandes diferenças. A questão, hoje em dia, não é a idade que se tem, mas a forma como a pessoa está, física e cognitivamente.
Como lida com a exposição e as críticas, por vezes ferozes e impiedosas, das redes sociais em relação às figuras com exposição pública? Conseguiu já criar uma carapaça resistente a tudo isso?
As redes sociais configuram uma parte do nosso mundo. Não há como evitá-lo. Encaro o fenómeno com distanciamento. Um post não ocupa mais do que um segundo na minha vida.
Onde foi buscar coragem para voltar à antena dois meses depois da morte súbita de um filho, a dor maior?
Todas as questões relacionadas com o dia 29 de junho de 2014 são reserva da minha intimidade.
CNN Portugal em números
550
METROS QUADRADOS
tamanho do estúdio principal, com sete sets diferentes
24
HORAS
informação com emissão ao longo de todas as horas do dia
50
NOVAS CONTRATAÇÕES
para o canal
80
TRABALHADORES
que transitam para a CNN Portugal
ABC1
TARGETS COMERCIAIS
serão a aposta do canal, com idades que vão dos 25 anos para cima dos 60
425
MILHÕES
número de lares onde a CNN, a casa-mãe, está presente