As atletas, incluindo as jogadoras de críquete, têm estado escondidas no Afeganistão desde que os talibãs subiram ao poder, no mês passado, com algumas delas a denunciarem ameaças de violência por parte dos combatentes talibãs, se fossem apanhadas a jogar. Agora, numa entrevista dada pelo chefe adjunto da comissão cultural dos talibãs, Ahmadullah Wasiq, ao canal televisivo australiano SBS, citada pelo The Guardian, foi referido que o desporto feminino não era considerado apropriado nem necessário: “Não creio que as mulheres sejam autorizadas a jogar críquete porque não é necessário que as mulheres joguem críquete ou se façam qualquer tipo de desporto em que são expostas”.
Segundo o representante do grupo islamita, no críquete as mulheres podem “enfrentar uma situação em que o seu rosto e corpo não estão cobertos [e] nem o Islão nem o Emirado Islâmico (Afeganistão) permitem que as mulheres sejam vistas desta forma”. Além disso, uma vez que, no contexto atual, os meios de comunicação têm algum alcance, Wasiq justifica que “haverá fotos e vídeos, e depois as pessoas vão assistir a isso”.
Apesar de os funcionários do conselho de críquete do Afeganistão ainda não terem sido informados oficialmente sobre o destino do críquete feminino, o programa para o sexo feminino já foi suspenso.
Depois de assumirem o novo governo formalmente no Afeganistão, na quarta-feira, os talibãs, e apesar das promessas anteriores, de que criariam uma administração inclusiva para as mulheres, na declaração política divulgada para acompanhar o anúncio do novo governo, as mulheres não foram mencionadas uma única vez.
Hibatullah Akhundzada, líder supremo dos talibãs, que divulgou a declaração, realçou ainda que o objetivo do governo é “trabalhar arduamente no sentido de defender as regras islâmicas e a lei sharia”.
Embora na declaração tenha sido salientado que o gabinete era provisório, e que os talibãs estão a ser fiéis à promessa de dar passagem segura a cidadãos estrangeiros e afegãos, desde a mudança de governo, a 15 de agosto, que o Afeganistão continua com regras restritas tais como esta relativamente ao desporto feminino, e sem mulheres nem nos postos de trabalho, nem no governo.
Perante este cenário de avisos, o Departamento de Estado norte-americano manifestou preocupação de que o novo governo incluísse apenas talibãs, sem mulheres, e com personalidades com um historial preocupante, mas realçou que, sendo os direitos humanos uma questão que abrange todo o mundo, as decisões que forem contra isso vão ser julgadas pela comunidade internacional. Além dos americanos, na Alemanha o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, também já veio dizer que está pouco otimista relativamente às mudanças que os talibãs dizem pretender fazer.
Também Bill Roggio, diretor e editor do Long War Journal, sediado nos Estados Unidos da América, sobre o novo governo liderado pelos talibãs, salientou que “é praticamente o mesmo que o antigo”. Já Michael Kugelman, do Centro Internacional para Académicos de Woodrow Wilson (The Wilson Center) nos EUA, acrescentou que “não é de todo inclusivo, e isso não é nenhuma surpresa”.
Os talibãs tinham feito repetidas promessas nos últimos dias para governar o Afeganistão com maior moderação do que na última vez, de 1996 a 2001 – em que foi negado o acesso à educação e ao emprego à grande maioria das mulheres e raparigas -, mas desde que subiram ao poder muitas têm sido as provas de que as promessas relativas à mudança de atitude para com as mulheres foram em vão.
Ainda antes do anúncio da constituição do novo governo, na semana passada, vários foram os grupos de mulheres que se manifestaram em várias partes do país para reivindicar os seus direitos, com o intuito de fazer pressão sobre o novo regime dos talibãs.