Foi precisamente por causa de uma caneta, ou de três, todas iguais, que Marta Pais de Almeida, 17 anos, começou a pensar nos outros – naqueles para quem uma das suas três canetas faria realmente a diferença. Como é normal quando se tem 15 anos, pois esta história passa-se em 2019, Marta pegou no telemóvel e partilhou as suas preocupações com um amigo. E o amigo apoiou-a de imediato. Mas tinham ambos de falar com os pais, claro. Os adultos só lhes pediram que a ideia fosse melhor consolidada e vertida para um papel, se realmente queriam pô-la em prática. E depois partiram para o terreno.
Quando se dirigiram à Helpo, uma associação que atua em Moçambique, já sabiam debitar bem a narrativa – estavam dispostos a pôr em marcha uma campanha de angariação de material escolar para que os peritos o entregassem no terreno, aos meninos mais necessitados.
Essa primeira campanha decorreu em abril de 2019 e reuniu cerca de 5 mil materiais. No entretanto, o amigo saltou fora do projeto, veio uma pandemia, a angariação passou-se essencialmente para o online e o pai de Marta, advogado, ajudou-a a formar a associação juvenil EstuDar (que é como quem diz, és tu a dar). O objetivo manteve-se: promover a educação e escolaridade de crianças carenciadas dos países de língua oficial portuguesa. “Mas queremos manter a pegada e espírito jovem que esteve na génese deste projeto”, acrescenta a fundadora.
O material que recolheram na segunda campanha, em escolas e depois no mundo virtual (cerca de 6 mil unidades), através de bilhetes para concertos online ou vales, foi parar à associação Capulana, que também desenvolve trabalho solidário em Moçambique. “Ficámos mesmo contentes, mas só há pouco tempo é que as crianças receberam as nossas dádivas. Demora tudo muito tempo”, conta Marta.
Agora, estabeleceram uma parceria com o Pingo Doce da Amoreira, no Estoril, para a recolha do material escolar até dia 26 de setembro (só ao fim de semana). Não será por essa loja ficar fora de mão que se deixa de contribuir. Há doações por MBWAY ou transferência bancária, compra de vales de kits escolares ou entrega de material (novo ou reciclado) na morada da associação (Avenida Infante Dom Henrique, nº26, 1149-096 Lisboa). Tudo o que for recolhido será confiado, desta vez, aos voluntários da associação Kele, que todos os meses se deslocam a São Tomé e Príncipe para trabalhar junto das crianças.
“Queremos facilitar o acesso à educação daqueles que mais precisam. Acreditamos plenamente que, com a boa vontade de cada um, vamos alcançar o nosso objetivo. Há pacotes de 10 canetas a um euro. Quantos euros já gastámos com coisas dispensáveis? A verdade é que com apenas 10 cêntimos podemos comprar uma caneta – a base que todas as crianças precisam para poder escrever, aprender, crescer e sonhar”, acredita Marta, que nunca mais olhou para o seu estojo com a mesma leviandade.