Na revista científica JAMA Neurology, onde se pode ter acesso ao estudo, os cientistas salientam que o sono interrompido é comum no final da vida, e está associado a mudanças na função cognitiva – que influencia a capacidade mental para aprender, pensar, raciocinar, resolver problemas, tomar decisões, lembrar e prestar atenção. Além disso, essas interrupções do sono foram também relacionadas a sinais precoces da doença de Alzheimer, depressão e doença cardiovascular.
Para chegar a essas conclusões, os investigadores analisaram quase 4500 participantes com idade média de 71,3 anos, na sua maioria caucasianos e provenientes dos EUA, Canadá, Austrália e Japão, e tentaram perceber se fatores demográficos, a função cognitiva subjetiva e objetiva, e os níveis de beta amiloide – níveis de proteínas cerebrais – dos participantes influenciavam a duração do sono.
Para avaliarem as capacidades cognitivas de cada participante, foi realizado o Teste de Substituição de Símbolos de Dígitos (DSST), que analisa a orientação, atenção, memória, linguagem e capacidades visuais, baseado na eficácia que cada pessoa tem em fazer corresponder corretamente símbolos e números, até 90 a 120 segundos, de acordo com uma chave específica escrita no cimo de uma folha.
O que constataram foi que, no que diz respeito aos adultos mais velhos com curta duração do sono – definida no estudo como seis horas ou menos -, a prestação era moderadamente a significativamente má. Nas pessoas que relataram uma duração do sono longa (nove ou mais horas), os resultados foram ligeiramente piores do que naqueles que relataram a duração normal do sono.
Relativamente aos níveis de beta amiloide, os investigadores concluíram que os participantes com curta duração do sono apresentavam níveis elevados de amiloide beta, comparativamente aos participantes que relataram a duração normal do sono – o que, de acordo com o autor principal do estudo e investigador Universidade de Stanford, Califórnia, “aumenta bastante” o risco de demência. Os participantes que tinham uma duração de sono longo não mostraram níveis de beta amiloides elevados.
Outros fatores que influenciam o sono
Durante o estudo, os investigadores também analisaram outros fatores, de forma a perceber se a duração do sono estava associada a outros fatores: a ingestão de cafeína pareceu não ter ligação, mas quanto mais bebidas alcoólicas os participantes bebiam diariamente, maior era a probabilidade de dormirem mais tempo; ser do sexo feminino e ter tido mais anos de educação estavam ambos significativamente associados a dormir mais tempo todas as noites, explicaram os pesquisadores.
A durabilidade menor do sono, de acordo com o estudo, também pode estar associada a disparidades noutros aspetos da vida, tais como saúde cardiovascular e metabólica, fatores socioeconómicos, “discriminação racial e percepção de racismo”, uma vez que os participantes negros ou afro-americanos relataram uma duração média de sono de 37,9 minutos a menos do que os caucasianos; os asiáticos reportaram 27,3 minutos menos do que os caucasianos; e os latinos ou hispânicos reportaram 15 minutos a menos do que os caucasianos.
“A principal conclusão do estudo é que é importante manter um sono saudável no final da vida”, realçou Winer, acrescentado que “tanto as pessoas que dormem pouco como as que dormem muito tinham índices mais elevados de depressão”.
O estudo sugere, assim, que os adultos mais velhos, que se preocupem com a sua saúde, deveriam considerar o sono tão importante como a dieta e o exercício físico para a sua saúde, uma vez “que o sono curto e longo pode envolver diferentes processos de doenças subjacentes”, concluiu Winer.
“Enquanto os investigadores ainda trabalham para compreender a complexa relação entre o sono e a nossa saúde cognitiva a longo prazo, o sono de alta qualidade pode ser importante para muitos aspetos da nossa saúde e bem-estar”, referiu Laura Phipps, chefe de comunicações da Alzheimer’s Research UK, (que não esteve envolvida no estudo), citada pela CNN, sugerindo que “entre sete e nove horas de sono é o ideal para a maioria dos adultos e qualquer pessoa”.