A distância mais curta entre o ponto de partida e o ponto de chegada deixou há muito de ser o principal critério para a empresa UPS definir a rota dos seus veículos de transporte de encomendas. O mais importante é seguir de destino em destino através do maior número possível de viragens à direita, uma vez que não só poupa tempo nos percursos como consome muito menos combustível. Virar à esquerda é, por isso, uma indicação raramente dada aos motoristas pelo sistema de GPS, que usa um software peculiar criado pela própria empresa, fundada há mais de cem anos nos Estados Unidos América mas que hoje opera em quase todos os países do mundo, incluindo Portugal.
A lógica do GPS da United Parcel Service, mais conhecida por UPS, é evitar as paragens nos cruzamentos que implicam uma mudança de direção para a esquerda (ou à direita, no caso do Reino Unido, por exemplo), atravessando a faixa de rodagem do lado contrário. As filas que se formam devido ao tráfego, ou mesmo por causa de um sinal de Stop, significam um gasto de combustível e uma perda de tempo consideráveis quando se tem em conta uma rotina diária de quase 25 milhões de entregas. Dar primazia às viragens à direita, a não ser em casos excecionais (cerca de 10% das mudanças de direção), traz ainda a vantagem de reduzir o número de acidentes, sustenta a empresa.
O ganho de tempo, em si mesmo uma mais-valia, permitiu também à UPS reduzir a sua frota em mais de mil veículos, baixando assim o consumo total de combustível, bem como o número de quilómetros percorridos em toda a operação. O próprio consumo de cada veículo também diminuiu, precisamente devido à menor ocorrência do chamado “para-arranca” nas filas de trânsito. Isso pesou mais no indicador de combustível do que o facto de os quilómetros palmilhados em cada percurso terem aumentado, em virtude da opção por andar às voltas em trajetos mais longos. Há uns anos, a empresa revelou que estava a consumir menos 38 mil litros de combustível por ano e a emitir menos 20 mil toneladas de dióxido carbono para a atmosfera.
Não é caso, todavia, para começarmos todos a usar a mesma estratégia, na esperança de pouparmos na gasolina ou no gasóleo, cujos preços têm estado em alta durante o verão. Nem sempre a insistência nas viragens à direita compensam, e o GPS da UPS não só consegue ponderar em que situações são apropriadas como define as rotas tendo em consideração os vários pontos de entrega por onde os veículos têm de passar para descarregar as encomendas.
Ainda assim, o britânico Graham Kendall, professor de Ciência Computacional na Universidade de Nottingham, lançava o desafio, num artigo de opinião publicado em 2017 no The Conversation (um projeto jornalístico com contributos de académicos), de se desenharem mais estradas com mais saídas para a direita e menos para a esquerda. “Seria preciso um valente planeador de cidades para implementar a ideia, mas se a UPS consegue poupar 38 mil litros de combustível, quanto poderia poupar uma cidade inteira ou mesmo um país?”.