Numa tentativa, por parte dos talibãs, de mostrar alguns sinais de mudança e desmistificar a ideia de que o “passado vai voltar” ao Afeganistão, um membro da equipa de comunicação, Abdulhaq Hemad, aceitou ser entrevistado, em direto, pela jornalista Beheshta Arghand, e explicou que não pretendem tratar as mulheres como fizeram entre 1996-2001, quando tomaram o poder pela primeira vez no Afeganistão. Referiu, ainda, que as mulheres iriam integrar a “estrutura de governo” (embora sem especificar que tipo de medidas vão ser adotadas nesse sentido).
Na rede social Twitter, muitos utilizadores já reagiram ao facto de ter sido escolhida uma jornalista para realizar a entrevista, que, de acordo com o jornalista Matthew Aikins, citado pelo The New York Times, foi “notável, histórica e calorosa”.
Saad Mohseni, empresário de origem afegã e australiana, escreveu na sua conta: “TOLOnews e os talibãs estão a fazer história de novo(…)Impensável há duas décadas, quando eles estavam no comando”.
A TOLONews é considerada uma estação televisiva independente e inovadora no Afeganistão. A transmitir conteúdos como novelas e reality shows, contrasta agora com o espírito conservador dos talibãs. Miraka Popal, chefe de notícias do canal afegão, preocupado com os direitos das mulheres sob o poder talibã, escreveu também, numa publicação na sua conta de Twitter que o canal continua “a fazer o seu trabalho”, acompanhando a frase com uma imagem de uma pivô a apresentar o noticiário.
Um utilizador, citado pelo Washington Post, respondeu à partilha: “Não vejo medo, vejo poder. Vejo uma mulher que sabe que hoje fala para todas as mulheres. Para mim, ela é – neste momento – a mulher mais bonita do mundo”.
Esta terça-feira, o canal colocou escolheu, também, a jornalista Hasiba Atakpal para reportar a situação a partir das ruas de Cabul.
Quando estiveram no poder, entre 1996 e 2001, os talibãs impuseram a sua própria interpretação (radical) da Sharia – lei islâmica. Nessa altura, as mulheres deixaram de poder trabalhar, passaram a cobrir o rosto com a burca e a estar acompanhadas por um parente do sexo masculino caso quisessem sair de casa. A educação de género misto também terminou, ficando proibidas as raparigas de frequentar a escola.
No entanto, os Estados Unidos da América invadiram o Afeganistão em 2001, na sequência dos ataques de 11 de setembro, com o objetivo de desmantelar a Al-Qaeda, uma vez que alegavam que os talibãs tinham dado apoio a Osma Bin Laden – líder da Al-Qaeda e mentor dos ataques à torres gémeas do World Trade Centre, em Nova Iorque. Depois de instaurado o novo governo, os EUA investiram mais de 780 milhões de dólares na promoção dos direitos das mulheres.