Os serviços secretos dos EUA obtiveram acesso a uma autêntica mina de dados genéticos extraídos de amostras de vírus estudadas no Instituto de Virologia de Wuhan, China, que continua sob suspeita de ter sido o berço do surto de Covid-19.
Segundo a CNN, não é claro como os serviços de informações americanos obtiveram acesso a esses dados, mas uma das possibilidades, avançada por fontes da cadeia de informação, tem por base o facto de os computadores usados para gerar e processar este tipo de dados estarem, normalmente, ligados a servidores externos em cloud, o que significa que o sistema do laboratório chinês possa ter sido hackeado.
Neste momento, a principal dificuldade é traduzir os dados, uma vez que estão registados em mandarim e, portanto, não basta que os investigadores sejam cientistas qualificados, precisam de compreender a língua. Depois deste processo, os dados terão de ser convertidos em informações úteis, com a ajuda de supercomputadores nos Laboratórios Nacionais do Departamento de Energia, que inclui 17 instituições de investigação governamentais de elite..
Uma amostra de 22 mil dados genéticos foi removida da internet pelas autoridades chinesas, em setembro de 2019. Desde então que a China se recusou a entregar qualquer tipo de dados em bruto sobre os primeiros casos de coronavírus, tanto à Organização Mundial da Saúde, como aos Estados Unidos.
Dois cientistas que estudam o coronavírus disseram à CNN que estão céticos relativamente à existência de um banco de dados genéticos tão extenso. “Num artigo de 2020, publicado na revista Nature, o Instituto de Virologia de Wuhan falou sobre todas as sequências que tinham até certa altura – e a maioria dos cientistas virologistas acredita que é tudo o que o Instituto tinha”, disse o Robert Garry, um virologista da Universidade de Tulane à CNN.
Caso os investigadores venham mesmo a fazer descobertas reveladoras pode ainda não ser suficiente para provar definitivamente se o vírus teve origem no laboratório de Wuhan. Mais pistas terão de ser investigadas, o que é uma prioridade no governo de Biden. “Os dados mais valorizados neste contexto são sequências genéticas, registos em banco de dados e informações contextuais sobre a proveniência das amostras, a época e o contexto em que foram adquiridas – informações que seriam úteis para adicionar à narrativa das origens do SARS-CoV-1”, disse uma fonte familiarizada com a investigação à CNN.
Os investigadores ainda estão genuinamente divididos entre as duas teorias prevalecentes sobre as origens da pandemia, mas defendem que ambas têm credibilidade. O código genético de um determinado vírus é a assinatura que permite aos cientistas saber diferenciar, por exemplo, as variantes Delta e Beta e pode oferecer pistas sobre como o vírus se adaptou ou sofreu mutações ao longo do tempo, incluindo se mostra sinais de manipulação humana.
Três possibilidades
Muitos cientistas continuam a acreditar que o cenário mais provável é que o vírus tenha passado dos animais para os humanos de forma natural. No entanto, apesar de já terem testado milhares de animais, os cientistas ainda não identificaram o hospedeiro intermediário pelo qual o vírus passou ao se adaptar aos humanos.
Alguns investigadores dos serviços secretos e políticos republicanos acreditam que os cientistas de Wuhan podem ter alterado geneticamente um vírus em laboratório, que se espalhou entre os cientistas, que depois, por sua vez, o terão disseminado pela comunidade.
Outra possibilidade é que a infeção inicial tenha ocorrido naturalmente fora do laboratório, talvez enquanto um cientista recolhia amostras de um animal selvagem, e que depois terá espalhado o vírus, sem saber, quando voltou ao laboratório com as amostras.
Perceber, exatamente, que vírus é que os cientistas de Wuhan estavam a investigar naquela altura pode fornecer evidências importantes para qualquer uma destas teorias.
Quando o prazo de 90 dias terminar, se os serviços secretos não tiverem concluído, com um elevado nível de confiança, as origens da pandemia, é possível que uma segunda revisão seja solicitada, sugeriram funcionários do governo à CNN.