A Associação Natureza Portugal (ANP) – organização não governamental portuguesa, sem fins lucrativos – que visa a conservação da natureza e a proteção do planeta, e trabalha em associação com a World Wide Fund for Nature (WWF), lançou o projeto, financiado pelo Oceanário de Lisboa e pela Species Conservation Fund, de forma a “promover o conhecimento e contribuir para a atualização do estatuto de conservação das duas espécies de cavalos-marinhos existentes em Portugal (Hippocampus guttulatus e Hippocampus hippocampu)”, lê-se na nota de imprensa.
Na sessão de compromisso com o Clube Naval de Cascais e o Cascais Dive Center – novos embaixadores do projeto – realizada na quinta feira, Cátia Nunes, técnica de oceanos e pescas da AMP/WWF, explicou à VISÃO que este projeto nasceu da necessidade de se obter uma maior quantidade de dados sobre a espécie, uma vez que o Instituto de Conservação da Natureza os tem em número insuficiente.
O estudo que a equipa do projeto realizou previamente, na Ria Formosa – onde há já um santuário que protege os cavalos marinhos das ameaças de captura pelo meio de pescas ilegais -, mostrou que “tinha havido um declínio muito grande das duas espécies de cavalos-marinhos”, mas não havia dados sobre o resto do País.
Miguel Correia, investigador especialista em cavalos-marinhos, frisou ainda que “a perda de habitat é, provavelmente, a causa mais provável desta diminuição, uma vez que tem sido detetada uma quebra de pradarias marinhas fundamentais para a fixação dos cavalos-marinhos”.
De acordo com o investigador, “os cavalos-marinhos têm uma plasticidade muito grande em termos de habitat, mas o habitat preferencial é sobretudo zonas de predaria marinha e tudo o que é estruturas de corais. Podem também ocorrer em locais com impacto maior de atividades humanas onde há portos de pescas e marinas, mas qualquer local que seja abrigado e tenha condições para eles se fixarem é um local onde, à partida, eles podem ocorrer”.
“A ideia é envolver os centros de mergulho num compromisso, torná-los embaixadores do projeto, e dar-lhes formação para que consigam fazer ciência debaixo de água, através da aquisição do conhecimento empírico e científico”, explicou Cátia. A estes centros compete a monitorização dos cavalos-marinhos duas vezes por ano, ou mais, nos mesmos locais da sua zona costeira.
A técnica da AMP/WWF salientou ainda que “como [os centros de mergulho] já têm o conhecimento de que existem estas espécies, quais os habitats que podem ser preferências, designam um sítio onde vão realizar o mergulho e eles próprios fazem as monitorizações”, colocando-as posteriormente na plataforma iSeaHorse.
No âmbito deste projeto, já foi feita a ação prática em três centros de mergulho – Sesimbra, Açores (São Miguel) e Cascais (esta semana), – mas apenas num conseguiram ver um cavalo-marinho, já sem vida.
Pioneiro na conservação das espécies de cavalos-marinhos, este projeto é também uma forma de sensibilizar para a proteção dos habitats marinhos. Considerada de “espécie bandeira” pela técnica da AMP/WWF, pode ser o incentivo que a sociedade precisa para a importância da preservação dos oceanos.
Ainda no âmbito deste programa, têm sido realizadas também sessões de educação em escolas primárias, básicas e secundárias focadas nas perspetivas emblemáticas da espécie.
“O que prevemos para o futuro é conseguir continuar estas monitorizações – conseguir continuar a ter estes centros de mergulho como embaixadores – e ter – isto seria o ponto ideal – dados suficientes para conseguir que a espécie tenha um estatuto”, concluiu Cátia.