“Tenho muito medo da doença, mas ainda tenho mais medo da vacina”, desabafa Maria Teresa Parreira. Aos 64 anos, já podia ter sido vacinada há meses, mas alega não se sentir preparada. É assistente técnica na Unidade de Saúde Pública de Portimão e nem os médicos com quem trabalha conseguiram convencê-la a mudar de ideias. A controvérsia em torno da vacina da AstraZeneca, que passou a ser recomendada apenas para maiores de 60 anos, contribuiu para a sua hesitação. “Sinto que estão a lidar connosco como se fôssemos cobaias”, afirma.
A infeciologista Margarida Tavares, que desde o início da pandemia coordena o internamento da Unidade de Doenças Infeciosas Emergentes do Hospital de São João, no Porto, não tem dúvidas de que o combate à pandemia só poderá ser posto em causa pela falta de vacinas ou por a população não aceitar vacinar-se. “Não se pode desbaratar a confiança nas vacinas com atitudes imponderadas como as questões à volta das vacinas da AstraZeneca e da Janssen, em que os raros efeitos adversos foram muito mal comunicados”, critica. No entanto, sublinha que a hesitação vacinal é muito reduzida em Portugal.