A conversa solta-se, faz-se ora de avanços ora de recuos temporais, mas começa e acaba há mais de 40 anos, nos Estados Unidos da América, quando o fermentador (como gosta de se apresentar) Domingos Soares Franco foi para lá estudar, fugido de um verão demasiado quente para a sua inquietude e posição política. A gravação da entrevista tem duas horas, está repleta das memórias deste bon vivant, recentemente eleito personalidade do ano (prémio atribuído pela Revista de Vinhos) e enólogo de vinhos generosos do ano (pela Vinho Grandes Escolhas), numa altura em que assinala a sua 40º vindima ao serviço da José Maria da Fonseca, empresa da família. Poderíamos ter feito isto à mesa, enquanto provávamos os vinhos de que ele tanto se orgulha, mas uma cicatriz da profissão impede-o agora de beber álcool, até chegar a hora do transplante de fígado. Aconselha-se, no entanto, que esta leitura se faça acompanhar de um copo de vinho da casa e do riso sentido de Domingos Soares Franco, 65 anos.
É verdade que, quando emigrou para os EUA, levou consigo uma samarra?
Sim. Aliás, quando nos reunimos para celebrar os 40 anos do final do liceu, em Nova Iorque, voltou à baila a minha alcunha da altura por causa desse casaco: “The fox”.