“Midnight Trains” é o nome da start-up francesa que irá possibilitar viagens noturnas a várias cidades europeias, e que terá paragem em Portugal. Com data prevista para 2024, os comboios prometem assemelhar-se a um verdadeiro hotel e têm como objetivo despertar o interesse por viagens mais ecológicas num mundo pós-Covid-19.
Com partida em Paris os comboios terão paragens em 12 cidades europeias, fazendo distâncias entre 800 a 1500 quilómetros. Serão incluídos países como o Reino Unido, Dinamarca, Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha, e Portugal, onde as paragens estão previstas para Lisboa e Porto. Este será um projeto a longo prazo, que poderá, no futuro, incluir mais cidades. Em comunicado, os fundadores explicam que esta não será a lista final de paragens, a mesma só será confirmada depois de tratadas todas as burocracias, como acordos de aluguer de material e autorização para o uso das redes ferroviárias tanto da França, como dos outros países.
A empresa foi fundada por Romain Payet e Adrien Aumont e será financiada por Xavier Niel, um empresário multimilionário da área das comunicações e um dos detentores do jornal Le Monde. Aumont já tinha sido bem-sucedido no mundo das start-ups, com a plataforma de crowdfunding KissKissBankBank. Decidiu apostar num projeto novo tanto por motivos pessoais, como por ver uma oportunidade de negócio.
Há uns anos, o negócio dos comboios noturnos passou a ser encarado como pouco lucrativo, levando algumas empresas a cortar este tipo de serviços, como a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn, que o fez em 2016, por não conseguir competir com os baixos custos e com a atratividade dos voos low cost ou dos autocarros de longa distância. No entanto, em pleno 2021, Aumont e Payet encaram um consumidor diferente, preocupados com a crise climática, cientes da pegada carbónica emitida pelos aviões e à procura de outro tipo de experiências.
“Notei que as pessoas não querem entrar num avião pela preocupação das emissões de dióxido de carbono. No momento, não há nenhuma alternativa para viagens de média distância para além de voos ou maus comboio noturnos. A única forma que podemos ter para competir com os aviões é reinventar a experiência de andar de comboio”, explica Aumont, ao The Guardian.
Também Payet diz à CNN que se criou uma ilusão da rapidez dos voos, explicando que um voo de uma hora, é na realidade quatro horas. “Pensamos que os viajantes agora procuram uma forma mais confortável e conveniente para viajar. Os operadores de transportes [aéreo e ferroviário] têm-se preocupado mais em reduzir os preços nas últimas duas décadas, esquecendo-se completamente da experiência do consumidor e dos serviços associados”, acrescenta.
Aumon explica, ao jornal britânico, que as carruagens serão um autêntico hotel, organizadas em quartos e com restaurante e bar. “As pessoas querem privacidade. Não querem partilhar o espaço em que dormem com um estranho. Querem privacidade, segurança e uma cama de boa qualidade. Ao oferecer um bar e um restaurante também oferecemos o convívio e uma certa art de vivre”, acrescenta.
Apesar de parecer luxuoso, os fundadores defendem que o objetivo não é igualar o famoso (e caro) Expresso do Oriente, que ficou conhecido, entre 1883 e 1914, pelas viagens de longa distância entre Paris e Constantinopla (Istambul) e por ser frequentado por altos membros da burguesia e da aristocracia. Ao invés os “midnight trains” esperam ser uma alternativa aos comboios tradicionais do país que consideram “desconfortáveis e desprovidos de intimidade” e aos voos de curta duração.
Preços ainda não há, mas os responsáveis avançam, ao The Guardian, que seriam competitivos em relação aos voos de curta duração.
Para Portugal este tipo de viagens será uma mais valia uma vez que permite ao país voltar a ter uma ligação noturna com França. A março de 2020 deixaram de ser realizadas as duas ligações de comboios noturnos que possuí-a, a Lusitânia Expresso (Lisboa- Madrid, Espanha), e a Sud Expresso (Lisboa- Hendaia, França), devido à falta interesse do governo espanhol.