“D. Duarte de Bragança simpatiza com a teoria de Cristóvão Colombo ser português”, diz à VISÃO Carlos Evaristo, arqueólogo especialista em relíquias sagradas e iconografia sacra medieval, e presidente da Fundação Oureana. O arqueólogo acrescenta que o pretendente ao trono português, através da Fundação D. Manuel II, a que preside, financia os custos da componente nacional do Projeto Colombo.
Mediante testes de ADN, aquele projeto tenta provar que o navegador era português ou “ibérico”. O epicentro está na universidade de Granada e no professor José Lorente Acosta, que chefia a equipa de investigação que reúne entidades de vários países.
No caso de Portugal, as contribuições são asseguradas pela Fundação Oureana que Carlos Evaristo dirige e, sobretudo, pelo seu Museu de Relíquias, instalado no castelo de Ourém. Recentemente, três cabelos da rainha Santa Isabel, com mais de sete séculos, foram cuidadosamente removidos por José Lorente e Carlos Evaristo de um relicário com uma sua madeixa, “selado em lacre com o sinete do bispo conde de Coimbra D. Frei Joaquim de Nossa Senhora da Nazaré”, diz o arqueólogo. “Este cabelo foi recolhido por esse prelado, na presença do rei D. Miguel I, como o comprova documentação arquivada na ocasião da abertura do túmulo da rainha Santa, para verificação do estado de conservação do seu corpo incorrupto”, acrescenta.
Carlos Evaristo forneceu também a José Lorente outras duas amostras de relíquias, com sangue e ossos de “dois santos portugueses mais contemporâneos de Colombo e que eram membros da Família Real de Avis e de Bragança”. Mas o arqueólogo prefere não identificar publicamente aqueles “dois santos”, porque as relíquias em causa “perderam os selos de autenticidade ao longo dos séculos”, embora acredite que são “genuínas”.
Seja como for, o objetivo mantém-se: descobrir um elo que conduza à confirmação de que Cristóvão Colombo “era, pelo menos, ibérico, se não mesmo português”, através da comparação de marcadores genéticos, com suporte na matéria óssea do navegador (que morreu em Valladolid, a 20 de maio de 1506, aos 55 anos), de um filho e de um irmão, encontrada há anos em Sevilha e cientificamente comprovada.
Carlos Evaristo defende a teoria do investigador Augusto de Mascarenhas Barreto, já falecido, segundo a qual Colombo nasceu em Cuba, no Alentejo, fruto de uma relação extraconjugal do duque de Beja, D. Fernando (segundo filho do rei D. Duarte I), com Isabel Zarco, filha de Gonçalves Zarco, fidalgo da Casa do Infante D. Henrique. Em adulto, diz o arqueólogo, “Colombo serviu como capitão de guerra, uma espécie de agente secreto no que respeita a desviar as atenções do Papa espanhol, Alexandre VI, e dos reis católicos, Isabel de Castela e Fernando II de Aragão, do verdadeiro caminho marítimo para a Índia e da existência do Brasil”.
Problema bicudo
Por aquela tese, temos um corajoso patriota português. Carlos Evaristo, porém, sofreria uma forte desilusão quando descobriu que o túmulo de D. Fernando, em Beja, estava vazio. O suposto pai de Colombo seria um instrumento genético infalível, na comprovação, ou não, de que o navegador era português. A culpa é do governo de Joaquim Augusto de Aguiar, que em 1834 decretou o fim dos sepultamentos nas igrejas e criou os cemitérios públicos, o que levou à chamada “revolta da Maria da Fonte”. Os restos mortais de D. Fernando, concluiu o arqueólogo, “hão de ter ido parar, por ignorância, a uma vala comum”.
Mas existe um problema bem mais bicudo com a teoria de Augusto de Mascarenhas Barreto: choca de frente com a historiografia adquirida e documentada. Os académicos mais credíveis afirmam que Cristóvão Colombo nasceu em 1451, em Génova, filho de Domenico Colombo e de Susanna Fontanarossa. E que, apesar da forma atribulada como chegou a Portugal, em 1476, salvando-se a nado durante uma das numerosas batalhas do cabo de S. Vicente, por cá se instalou como agente das principais casas comerciais de Génova.
Com esse estatuto, deslocou-se à Madeira para entrar no negócio do açúcar, então muito rentável. Em 1479, casou-se com Filipa Moniz, filha do segundo matrimónio de Bartolomeu Perestrelo, capitão-donatário de Porto Santo. E, entre Lisboa, o Funchal e Porto Santo, locais onde se sabe que residiu, Colombo adquiriu um conhecimento substancial sobre as navegações portuguesas na costa ocidental africana.
Começou então a conceber o seu plano de navegar em direção ao ocidente, para atingir a Ásia. Em meados da década de 1480, apresentou o seu projeto ao rei D. João II, que o rejeitou. O monarca considerava economicamente mais viável o paulatino avanço português pela costa africana.
Resumindo para encurtar razões, seria ao serviço dos reis católicos de Espanha que, a partir de 1492, Colombo estaria por quatro vezes nas Américas, julgando encontrar-se na Ásia. Ignorava ter descoberto um novo mundo. E, depois, destacou-se por um governo despótico dessas terras e pela escravização dos nativos. Nada que orgulhe ninguém.
Mas Carlos Evaristo, com o apoio de D. Duarte de Bragança, mantém-se na sua: se as amostras que entregou a José Lorente para testes de ADN resultarem inconclusivas, tem outras em reserva para fazer chegar ao especialista em Genética da universidade de Granada. Apetece lembrar um clichê – a esperança é mesmo a última coisa a morrer.