Esta foi uma semana muito produtiva e decisiva para os cientistas que investigam os nossos antepassados. Na quinta-feira, em Israel, um grupo de paleontólogos anunciou a descoberta de uma espécie de hominídeo ainda desconhecida, com 126 mil anos, uma altura em que os humanos modernos ainda coexistiam com os neandertais. Um dia depois, a revista científica The Innovation publica um trabalho sobre outra espécie nova, batizada de homem dragão, que será bem mais próximo de nós do que os neandertais.
Assim apelidado por ter sido descoberto na região do rio Dragão, na cidade de Harbin, China, este Homo longi (este é o nome científico) terá vivido há 146 mil anos. Para os especialistas chineses e ingleses que estudam o crânio encontrado, ele será o parente mais próximo do homem moderno, uma teoria que vem revolucionar o que sabemos sobre a evolução do Homo sapiens.
Ao contrário de ver o Homo sapiens como uma espécie única, tal como aprendemos na escola, as novas teorias garantem que, há 200 mil anos na Terra havia sete espécies humanas diferentes a coexistir. Além de partilharem o habitat, relacionavam-se e tinham filhos. “Seriam o Homo sapiens, o de Neandertal, o Homo daliensis, o Homo erectus, o Homo floresiensis, o de Luzón e este novo”, afirma Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres e coautor de dois dos estudos sobre o homem dragão, citado pelo El País.
A história desta descoberta tem contornos cinematográficos. Em 1933, um homem que trabalhava na construção de uma ponte encontrou o fóssil de um crânio e escondeu-o dentro de um poço, para que não fosse levado pelos japoneses durante a guerra com a China. Pouco antes da sua morte, em 2018, o homem decidiu revelar a localização do fóssil no poço e a família doou-o ao Museu de Geociências da Universidade de Hebei.
“É muito raro encontrar um fóssil como este, com o rosto em boas condições”, frisou John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, em entrevista ao The New York Times. O crânio pertenceria a um indivíduo do sexo masculino, de 50 anos, com o nariz largo, sobrancelhas baixas, dentes grandes e boca larga. O seu crânio podia conter um cérebro do mesmo tamanho que o nosso.
Não é a primeira vez que se encontram na China crânios e outros ossos que não têm correspondência com nenhuma espécie conhecida. Se, por um lado, os traços de assemelham aos do Homo erectus, o primeiro a sair de África, há 1,9 milhões de anos, e a espalhar-se pela Ásia, por outro lado tem características parecidas com as do Homo sapiens, que chegou à Europa há 50 mil anos. Os cientistas não duvidam, agora, que todos esses achados se referem ao Homo longi, mais próximo de nós do que os neandertais.
Se, entre os cientistas, a discussão sobre as espécies ainda vai no adro, os paleontólogos somam novas descobertas às teses da coexistência entre elas. Um grupo de israelitas anunciou, também esta semana, através de um artigo publicado na Science, o achado de fragmentos de crânio e de uma mandíbula que deverão pertencer a uma nova espécie de hominídeo que terá vivido entre 140 e 120 mil anos atrás.
Sem queixo e com dentes muito grandes, este Homo de Nesher Ramla (assim apelidado devido ao local onde foi encontrado) pode ter sido um ancestral dos neandertais e das populações da Ásia.