A missão do SpaceX CRS-22 Dragon, cujos serviços são contratados pela NASA, era reabastecer a Estação Espacial Internacional, mas não só. Também transportou lulas, micróbios e tardígrados como parte de várias experiências científicas. Os cientistas da NASA e de outros laboratórios no mundo estão a tentar perceber como é que os tardígrados toleram o espaço e se a microgravidade afeta as relações simbióticas (entre as lulas e os micróbios).
Durante o voo espacial, vão ser analisadas, em ambiente de microgravidade, as interações químicas e moleculares entre micróbios “bons” e os seus hospedeiros animais, que neste caso são uma espécie de lulas (Euprymna scolopes) que vive no Pacífico e brilha no escuro e a sua bactéria simbiótica, Vibrio fischeri.
As lulas acabadas de nascer são postas num aparelho de hardware dentro do foguetão. Uma vez no espaço, o órgão responsável por emitir o brilho é colonizado com a bactéria, mas não em todos os animais. A simbiose é monitorizada ao longo das primeiras 12 horas de voo e, posteriormente, as lulas são congeladas de modo a ficarem preservadas até chegarem à Terra.
Esta viagem inédita foi decidida porque animais e humanos dependem de micróbios para manter um sistema digestivo e imunológico saudável e ainda não se sabe como é que o espaço afeta as interações benéficas com esses micróbios.
Já se sabia como se comportavam algumas bactérias patogénicas em ambiente espacial, nomeadamente a Salmonella, que cresce mais rápido e fica mais virulenta. Mas as bactérias benéficas ainda não tinham recebido este tipo de atenção dos cientistas. Os resultados deste estudo podem não só ajudar a melhorar a saúde dos astronautas, mas de toda a população, no geral.
Além de Jamie Foster, investigador da NASA, participaram nesta experiência investigadores da Universidade de Wisconsin-Madison, Florida Space Grant Consortium, um instituto de engenharia da NASA, estudantes da Academia de Milton, em Massachusetts e do Secundário da Ilha de Merritt, na Flórida, EUA.
O que são tardígrados?
São criaturas microscópicas que vivem na água e são capazes de suportar condições extremas, mais do que a maioria dos seres vivos. O objetivo ao enviar também estes animais é perceber se os genes necessários à adaptação e sobrevivência em condições ambientais de elevado stress são alterados no espaço.
“Uma das coisas que realmente queremos fazer é entender como é que os tardígrados estão a sobreviver e a reproduzir-se nestes ambientes, e se podemos aprender alguma coisa sobre os truques que eles usam e adaptá-los de modo a proteger os astronautas”, explica, no comunicado da NASA, o investigador principal deste estudo, Thomas Boothby.
Kidney Cells-02
Uma das experiências que vai ser conduzida no CRS-22 Dragon é a Kidney Cells-02. Este projeto usa um modelo de célula renal 3D para estudar os efeitos da microgravidade na formação de microcristais nos túbulos renais. Na microgravidade, espera-se que esses microcristais permaneçam uniformemente suspensos, permitindo uma melhor observação dos seus efeitos. Alguns astronautas apresentam maior suscetibilidade a ter pedras nos rins durante o voo, o que afeta a sua saúde e o sucesso da missão.