São rotíferos bdeloídeos, organismos microscópicos que vivem em ambientes aquáticos. Estas criaturas multicelulares têm anatomias complexas e são conhecidas pela sua capacidade de sobrevivência. São dos animais mais resistentes à radiação, suportam acidez, fome, níveis baixos de oxigénio e anos de desidratação. Agora, um estudo publicado segunda-feira, 7, na revista Current Biology, realizado por uma equipa de investigação da Rússia, veio revelar que até aguentam mil anos congelados.
Estes microrganismos encontravam-se em criptobiose, um estado de latência causado por condições ambientais, como temperaturas extremas. Neste estado, os animais podem continuar vivos, mas ficam com o metabolismo quase inativo. Os cientistas encontraram-nos no permafrost (solo permanentemente congelado) da Sibéria, a cerca de três metros de profundidade e extraíram-nos através de um equipamento de perfuração.
“O nosso relatório é a prova mais forte até hoje de que animais multicelulares podem suportar dezenas de milhares de anos em criptobiose, o estado de metabolismo quase completamente interrompido”, afirmou Stas Malavin, coautor do estudo e investigador do Laboratório de Criologia de Solo do Centro Científico de Pushchino para a Investigação Biológica da Rússia, citado por órgãos de comunicação.
Os cientistas utilizaram datação por radiocarbono, um método capaz de determinar a idade dos rotíferos bdeloídeos, descobrindo que estes teriam 24 mil anos. O estudo apurou ainda que os animais eram capazes de se reproduzir depois de descongelados. Estes organismos microscópicos são conhecidos como os “assexuais ancestrais”, uma vez que, conseguem reproduzir-se sem precisarem de outro animal.
Esta não é, no entanto, a primeira vez que cientistas conseguem ressuscitar seres vivos congelados. Como refere o artigo, estudos anteriores já o tinham provado em musgo antártico e plantas, a partir de sementes congeladas. Também em 2016, foi possível fazê-lo num tardígrado, um animal microscópico conhecido como urso-d’água, depois de ter estado 30 anos em criptobiose. Quanto aos rotíferos bdeloídeos, pensava-se, até então, que conseguiam sobreviver apenas uma década nestas condições. Os rotíferos bdeloídeos ainda são encontrados na atualidade, no musgo, em poças da chuva ou em corpos de água doce em regiões árticas e tropicais.
Os cientistas ainda não sabem o que faz com que estes animais sejam tão resistentes e capazes de proteger as suas células e órgãos de condições extremas e consertar o seu ADN danificado. Descobrir este fenómeno poderá ser uma solução para, no futuro, ajudar a preservar células, tecidos e órgãos de outros animais.