Mais de um quarto dos americanos republicanos concorda com ideias ligadas ao movimento QAnon, nascido na internet nos finais de 2017, e que alimenta a ideia de que Donald Trump é o salvador do mundo e está fazer uma campanha secreta com o objetivo de combater uma cabala de pedófilos e canibais que, alegadamente, dirigem um círculo de tráfico sexual infantil. Esta é a conclusão de um novo relatório divulgado na última semana pela organização americana de pesquisa e educação Public Religion Research Institute.
Apesar de a maioria dos americanos ser contra teorias da conspiração ligadas tanto a este movimento, que o relatório descreve como um “sistema de crenças vagamente interligado”, como a outros, 23% dos republicanos, segundo este novo relatório, continuam a acreditar nelas, algumas relacionadas com a forma como as eleições do ano passado nos EUA decorreram e que tentam validar a ideia de que Donald Trump não perdeu de forma legítima.
Na verdade, um inquérito realizado em maio deste ano pela Reuters e publicado recentemente concluiu que 56% dos republicanos acreditam que foi Trump quem venceu as eleições presidenciais de 2020, referindo que os votos ilegais foram a causa da sua derrota. A mesma pesquisa dá conta, ainda, de que apenas 3% dos democratas e 25% de todos os norte-americanos acreditam que o ex-presidente dos EUA é o “verdadeiro presidente” do país.
Relativamente à invasão do Capitólio por apoiantes de Trump, a 6 de janeiro deste ano, a mesma pesquisa concluiu que menos de 30% dos republicanos dizem acreditar que Trump esteve envolvido nela. Além disso, segundo uma investigação realizada pela Universidade de Quinnipiac, em Hamden, Connecticut, apenas 18% dos republicanos afirmam que a invasão do Capitólio foi “um ataque à democracia que nunca deve ser esquecido.
De acordo com o novo relatório, 23% dos americanos republicanos concorda, na generalidade, que o “sistema” dos EUA é controlado “por um grupo de pedófilos adoradores de Satanás, que gerem uma operação global de tráfico sexual infantil”. Já 14% de todos os americanos acreditam, além desta crença, que “haverá uma tempestade em breve que varrerá as elites no poder e que restaurará os líderes legítimos”, sendo que, para “salvar” o país, talvez tenha de se vir a recorrer à violência.
No fim de agosto do ano passado, a publicação científica Journal of Personality publicou um relatório que referia que perto de 40% da população dos Estados Unidos da América tende a acreditar em rumores e conjuras. Num país com 330 milhões de habitantes, há existe uma grande probabilidade de o movimento QAnon vir a contar com 132 milhões de seguidores, um número que equivale quase ao dobro do total de militantes do Partido Republicano e do Partido Democrata.
Há quem seja totalmente defensor de movimentos como o QAnon, “uma rede de esquemas em constante evolução”, assim diz o novo relatório, e que demonstre claramente os seus ideais e crenças. Contudo, há também quem seja “apenas” simpatizante de certas teorias da conspiração ou concorde com algumas das suas ideias e discorde de outras. Por isso mesmo, perceber com exatidão a percentagem de americanos ligada a movimentos conspiratórios torna-se uma tarefa complicada para os investigadores.
O relatório não indica, também, se o consumo de conteúdo ligado à extrema direita faz despertar este tipo de crenças no público ou se, pelo contrário, quem acredita em teorias da conspiração tende a consumir mais esse tipo de notícias.