Não é novidade que o facto de termos um dedo completamente oponível aos restantes dedos nos trouxe vantagens evolutivas. Percebe-se, por isso, que Dani Clode, então estudante de desenho industrial, se tenha lembrado de criar um polegar extra, uma prótese robótica amovível que se coloca logo após o mindinho para, assim, melhorar a destreza da mão.
Quatro anos depois de ter vencido os Helen Hamlyn Design Awards (uma competição que premeia a criatividade no design aplicado às pessoas), a sua invenção volta a ser notícia. Uma equipa de investigadores do Instituto de Neurociência Cognitiva do University College, em Londres, onde Dani Clode agora também trabalha, utilizou o seu “terceiro polegar” para perceber como é que o cérebro se adapta ao aumento corporal. E observou como os voluntários envolvidos na experiência sentiram aquela prótese robótica como um verdadeiro sexto dedo.
“Procurámos responder a perguntas-chave, como saber se o cérebro suporta uma parte adicional do corpo e como é que a tecnologia pode afetá-lo”, explicou à revista Science Robotics a principal autora do estudo, Paulina Kieliba. “O aumento corporal pode algum dia ser valioso para a sociedade de muitas maneiras, como permitir que um cirurgião opere sem um assistente ou que um operário de uma fábrica trabalhe mais eficientemente.”
Durante cinco dias, um grupo de vinte voluntários usou um “terceiro polegar”, impresso em 3D segundo o modelo criado por Dani Clode. Aprenderam a colocar a prótese junto ao mindinho da mão direta e a controlá-la com sensores de pressão ligados aos pés, na parte inferior dos dedos grandes. Bastam mudanças subtis de pressão para o sexto dedo se mover de imediato.
Além de serem observados em laboratório, os voluntários foram autorizados a levar a prótese para casa e usá-la em atividades variadas, durante duas a seis horas por dia. Segundo os investigadores, aprenderam muito depressa os conceitos básicos da sua utilização, demonstrando uma maior destreza com o passar do tempo. Essa melhoria verificou-se mesmo quando realizavam mais do que uma tarefa ao mesmo tempo e, inclusive, de olhos vendados.
“O nosso estudo demonstra que as pessoas podem aprender rapidamente a controlar um dispositivo deste tipo e a usá-lo em seu benefício, sem pensar demasiado”, sublinha Dani Clode. “Vimos que, enquanto usavam o terceiro polegar, as pessoas alteravam os movimentos naturais das suas mãos e sentiam que ele fazia parte do seu próprio corpo.”
Essa foi a descoberta mais surpreendente. Através da ressonância magnética, os investigadores encontraram alterações subtis mas significativos na forma em que a mão “aumentada” estava representada no cérebro. Os dedos são representados de maneira diferente, mas, ao usar-se a prótese, o padrão de atividade cerebral correspondente a cada um dos dedos tornava-se mais parecido.