Inicialmente, a médica Maria Fernanda Ralha, 60 anos, ainda pensou que se tratasse de uma brincadeira de mau gosto, mas não tardou a confirmar que era mesmo verdade. Uma carrinha que transportava 150 frascos despistara-se ao quilómetro 60 da autoestrada do Sul (A2), quando se dirigia para o concelho de Ourique, no distrito de Beja. “Aconteceu logo em janeiro, quando tínhamos poucas vacinas e estávamos a inocular os grupos de maior risco. Foi um sufoco”, recorda a diretora de Inspeção e Licenciamentos do Infarmed, que representa a autoridade nacional do medicamento na sala de situação do Plano de Vacinação Contra a Covid-19. Os seus olhos revelam a comoção que procura conter: “Vivemos estas coisas muito intensamente.”
Maria Fernanda Ralha faz parte do grupo responsável por garantir a execução, no terreno, da estratégia de vacinação da task force liderada pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo. A sala de situação é informada pelo núcleo de apoio ao coordenador (sediada em Oeiras) sobre as vacinas disponíveis em cada semana e quais os grupos prioritários a que se destinam. A sua tarefa é fazê-las chegar aos braços da população.
Apesar de o horário habitual de expediente ser das oito da manhã às oito da noite, todos os elementos estão habituados a dias (e noites) longos, mas a representante do Infarmed elege a data do acidente na A2 como uma das jornadas mais angustiantes vividas naquela divisão do terceiro piso do Ministério da Saúde, em Lisboa.