“Sabendo-se já há algum tempo que ia haver festa, não teria sido mais seguro abrir o estádio e permitir que o público entrasse, em condições de segurança?”. A pergunta é de Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública, professor e investigador do Instituto de Ciências da Saúde na Universidade Católica, dando o exemplo de eventos como as celebrações em Fátima ou a Festa do Avante!.
Provavelmente teria sido mais seguro, sim, mas agora já é tarde. Ainda durante o dia de ontem, 11 de maio, as multidões de adeptos do Sporting começaram a concentrar-se junto ao Estádio de Alvalade. À noite, marcava Paulinho o golo da vitória frente ao Boavista – e que acabou por dar o campeonato aos leões -, eram já milhares os que se concentravam em volta do estádio e na praça Marquês de Pombal, em Lisboa.
“Vi as imagens de pessoas sem máscara, aos pulos umas em cima das outras, aos gritos de tanta excitação… Isso não é boa ideia, mesmo que o facto de estarem ao ar livre mitigue um pouco a gravidade da situação”, refere o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que recomenda: “As pessoas que lá estiveram deviam ser testadas nas 48 a 72 horas seguintes ao evento, isto se for com um teste PCR. Já se for com um teste rápido, devem fazê-lo ao fim de 48 horas e, se o resultado vier negativo, devem voltar a repetir o teste ao terceiro ou quarto dia”.
Para Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade da Ciências da Universidade de Lisboa, será normal que a festa de ontem resulte em casos de infeção, o que não significa que tenham impacto nos números da pandemia. Até porque “muitas das pessoas que vi eram jovens”. No entanto, Carmo Gomes chama a atenção para os adeptos não vacinados acima dos 50 anos. “Nesse caso, correm-se mais riscos”. “Mas toda a gente já conhece alguém que tenha estado internado com Covid-19 e não aprendem”, sublinha.
“Se todos tivessem usado máscara, sendo uma celebração ao ar livre, não haveria muitos casos. Mas sem máscara… Basta haver um contaminado que seja ‘superspreader’ (com tendência para contaminar muitas pessoas) e esteja sem máscara para criar ali umas 20 cadeias de transmissão diferentes”, alerta Henrique Lopes.
Apesar disso, nota o especialista, “estamos numa fase baixa do contágio, com um caso de infeção por 25 mil pessoas, pelo que a probabilidade de ali ter estado alguém doente não é alta”. Mas era importante que as pessoas interiorizassem que “o fim do estado de emergência não significa o fim da epidemia”. E conclui: “Já existem eventos teste com grandes espetáculos. Porque não fizeram assim? Uma situação descontrolada tem sempre mais riscos”.