“Foi uma total surpresa. Tive de ler várias vezes o email porque pensei que fosse phishing [esquema de fraude online]”, confessa o imunologista Henrique Veiga-Fernandes à VISÃO. Já a investigadora Ana Pêgo, destaca o orgulho que sentiu ao ver o seu “valor científico” reconhecido.
Ambos são os primeiros cientistas portugueses nomeados embaixadores da prestigiada revista científica Science. A partir de agora, integram o Conselho de Editores de Revisão da publicação norte-americana, fundada em 1880. Este organismo integra investigadores de diferentes nacionalidades considerados uma referência no seu domínio de conhecimento.
Os cientistas portugueses vão ajudar a selecionar os artigos que merecem ser publicados na revista, sendo que menos de 7% das investigações submetidas para apreciação são aceites.
A sua missão é contribuir para manter a Science na vanguarda da Ciência. Para isso, têm a responsabilidade de ajudar a selecionar os artigos que merecem ser publicados na revista e que, como tal, devem ser posteriormente enviados para revisão científica dos pares. Uma tarefa exigente, já que menos de 7% das investigações submetidas para apreciação são aceites.
Além desta avaliação prévia dos artigos científicos, cabe-lhes identificar as áreas de investigação ou as descobertas com “maior potencial para transformar a sociedade” que devem ser destacadas na revista, em cada uma das suas áreas de especialização.
Henrique Veiga-Fernandes, investigador da Fundação Champalimaud, será conselheiro nos domínios da Imunologia e da Neuroimunologia, enquanto Ana Pêgo, cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, foi convocada no âmbito dos Biomateriais e da Engenharia Regenerativa.
“Estaremos a participar na cultura científica global e, de certa forma, a definir o papel que a Ciência poderá desempenhar na Humanidade. É extremamente aliciante”, admite o imunologista.
“Se virmos um trabalho de grande qualidade, também devemos tentar trazê-lo para a revista. Uma tarefa que não será difícil porque toda a gente quer publicar na Science”, afirma Ana Pêgo.
Os embaixadores da revista não se podem candidatar ao cargo, cabe ao corpo editorial nomeá-los. E a função é desempenhada em regime pro-bono.
Apostar na Ciência
Apesar da surpresa, Henrique Veiga-Fernandes não esconde a “enorme alegria” e sublinha que o convite também é um feito da Ciência portuguesa. “Resulta do investimento que começou a ser feito com [o ex-ministro da Ciência e Tecnologia] Mariano Gago”, nota o coordenador do laboratório de imunofisiologia da Fundação Champalimaud.
Ana Pêgo, que lidera o grupo de investigação de nanomateriais para terapias direcionadas do i3S, também reconhece que a aposta na investigação “está a dar frutos, mas é preciso mais”, defende, antes de lançar um apelo: “A Ciência implica estar na vanguarda e, nesse sentido, o investimento não pode ser passageiro, tem de ser continuado”.
À satisfação pessoal, a cientista soma a importância da visibilidade dada à investigação no âmbito dos biomateriais. “Reforça a posição de Portugal nesta área e mostra que damos cartas”, congratula-se.
Henrique Veiga-Fernandes adianta uma das áreas à qual irá aconselhar a Science a estar atenta: a compreensão e a cura do cancro. “Estou convencido de que nas próximas duas décadas vamos curar uma grande parte dos cancros”, vaticina.
O imunologista vê a entrada de cientistas portugueses na elite editorial da Science como mais um passo na internacionalização da investigação nacional. Afinal, “a Ciência não tem fronteiras, os cientistas trabalham para a Humanidade”.