Mário Moutinho de Pádua, alferes médico, fez parte do primeiro contingente militar a partir para Angola e, provavelmente, foi também o primeiro oficial português a escapar a uma guerra que não era sua. Tinha 25 anos quando embarcou no Niassa, integrado no batalhão de caçadores 88, depois de ter recebido formação no centro de operações especiais de Lamego. Entre os 8 e os 15 anos, vivera, com um ano de intervalo, em Benguela, Sá da Bandeira e Luanda. Quando soube que havia sido incorporado, a sua reação imediata foi “desertar”, mas a filiação comunista falou mais alto. Embora favorável à autodeterminação das colónias, o PCP incentivava os militantes a participar no conflito para politizarem os outros militares contra a guerra.
“Na própria noite da partida, comuniquei ao funcionário do partido, o José Bernardino, a minha intenção. Ele informou-me de que o Partido Comunista considerava importante que os militantes partissem e se esforçassem por fazer compreender aos militares que a independência era justa. Nessa altura, acatei a orientação e regressei a Abrantes, onde se terminavam os preparativos. Eram nove da noite quando saí de casa. O comboio militar arrancava à meia-noite. Já não me lembro dos pormenores, mas cheguei ao quartel um pouco depois da hora limite. Os jipes e os camiões já estavam em marcha lenta, alguns na estrada. Meti-me no meu, sem que ninguém me tivesse repreendido”, recorda Mário de Pádua, num depoimento escrito enviado à VISÃO.