Áustria, Dinamarca, Itália, Noruega, Estónia, Lituânia, Letónia e Luxemburgo decidiram suspender temporariamente a administração da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19, após o surgimento de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas com o lote de vacinas ABV5300, na Áustria e na Dinamarca, e a morte de uma enfermeira austríaca.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) analisou o lote em causa e disse, em comunicado, “não existir atualmente qualquer indicação que a vacinação tenha causado estas condições, que não estão listadas como efeitos secundários desta vacina”. O Infarmed acrescentou, num comunicado publicado esta tarde, que “os benefícios da utilização da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca mantêm-se superiores ao risco, não havendo qualquer alteração às recomendações sobre a sua utilização”.
O lote em causa, que continha um milhão de vacinas, foi entregue em 17 países europeus, dos quais Portugal não fazia parte, e, para já, o nosso País não parece ter intenções de suspender o uso desta vacina. “Estamos a tentar perceber o que é que se passa, antes de decidir o que quer que seja”, afirma Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e membro da Comissão de Vacinação que dá recomendações à Task Force para o Plano de vacinação contra a COVID-19 em Portugal.
O epidemiologista considera que, enquanto não houver um esclarecimento da parte da EMA sobre “se existe realmente uma associação entre o que aconteceu e a toma da vacina e não se perceber qual é a extensão do problema, não vamos tomar nenhuma posição”.
Prevenir é melhor que remediar?
Apesar de quase todos os países que decidiram suspender temporariamente a administração da vacina tivessem recebido o lote ABV5300, existem duas exceções, a Noruega e Itália. Questionado sobre se não seria melhor prevenir que remediar, Manuel Carmo Gomes relembra que, neste caso, “no outro prato da balança encontra-se a administração de milhares e milhares de vacinas a milhares e milhares de portugueses, com a possibilidade de evitar muitos casos de infeção e hospitalizações”.
O epidemiologista enfatiza que a vacina da AstraZeneca já foi administrada a dezenas de milhões de pessoas, que este tipo de reações nunca aconteceu nos ensaios da vacina e que o facto de ter surgido só agora suscita “uma certa perplexidade”. O Infarmed assegurou ainda à VISÃO que, até à data, não foram reportados quaisquer casos de formação de coágulos sanguíneos decorrentes da toma da vacina da AstraZeneca em Portugal.
Ainda assim, Manuel Carmo Gomes não exclui que se possa suspender a vacina “mesmo sem termos exatamente um esclarecimento sobre o que é que se passou e se existe ou não associação entre a toma da vacina e as situações registadas”, mas defende que, “pelo menos, tem de se fazer algum esforço, nem que seja de um ou dois dias, para se perceber bem o que se passa”.
Para já é importante perceber minimamente o que se está a passar e depois então decidir. “É possível que, mesmo na incerteza, haja uma recomendação em relação à vacina, mas é ainda muito cedo para dizer alguma coisa”, conclui Manuel Carmo Gomes.