Foi uma ideia que surgiu, literalmente, a partir de uma conversa de sofá: depois de perceberem que muitas pessoas que precisavam de ajuda nesta altura de pandemia não a pediam, muitas vezes, por vergonha, as irmãs Luísa e Margarida Vaqueiro Lopes, neurocientista e jornalista, respetivamente, arregaçaram mangas e começaram a trabalhar no Admiradores Secretos, uma plataforma que permite dar a mão a famílias cuja situação económica foi afetada pela Covid-19, mas de forma anónima.
“A minha irmã tinha acabado de enviar compras para uma família local que precisava e havia muitas mais. Percebemos que o problema era a vergonha, que as pessoas hesitavam em pedir apoio em locais muito expostos ou a pessoas que conheciam”, conta Luísa Lopes. Decidiram, nesse momento, criar uma maneira simples de enviar produtos de primeira necessidade – comida e artigos de higiene – às famílias. No dia seguinte, 1 de fevereiro, começaram a criar os formulários e a trabalhar neles e, na terça-feira, 2, divulgaram o projeto.
“Fizemos formulários simples, um para doadores e outro para famílias, onde elas devem colocar informações sobre o concelho de residência, número do agregado familiar e existência ou não de crianças pequenas, que precisam de fraldas e leite, por exemplo, e divulgámos nas redes sociais”, explica Luísa Lopes à VISÃO. Às irmãs, juntou-se Luís Batista, webdesigner, que se ofereceu para criar o site oficial do projeto, Ana Lopes, irmã de Luísa e Margarida [jornalista das revistas EXAME/Visão], e António Vieira, que fazem trabalho de backoffice, ou seja, ajudam a emparelhar doadores com a família a ser ajudada por proximidade.
“Logo no primeiro dia recebemos cerca de 25 pedidos de famílias e inscrições de 115 doadores, o que excedeu largamente as expectativas”, diz Luísa Lopes. “Todos os doadores estão envolvidos porque são eles que contactam as famílias que moram perto diretamente e organizam a entrega. É, de facto, de uma generosidade extraordinária”, acrescenta.
Neste momento, a Admiradores Secretos tem já mais de 450 doadores, inscritos em quase todos os concelhos do País, desde Bragança a Olhão, Castelo Branco, Santarém, Évora e Funchal. “Terça-feira, no primeiro dia, reencaminhámos 20 pedidos aos doadores que começaram a contactar famílias e hoje já há 46 famílias a serem contactadas pelos Admiradores respetivos”, conta a neurocientista.
Como é que se pode ajudar as famílias que mais precisam?
Quem pretender ajudar, basta inscrever-se no site e, caso haja uma família necessitada no concelho do doador, este recebe a informação que precisa por email, sendo o próprio a contactar e a organizar tudo com a respetiva família. “O princípio é que cada pessoa ajude uma vez apenas, enviando um cabaz de compras à família. A sua identidade só será conhecida pelo doador”, explica.
O envio pode ser feito através de uma encomenda online e entregue na casa da família, por exemplo. Desta forma, garante-se o anonimato mas também o distanciamento físico. A equipa pede sempre o comprovativo da entrega dos bens essenciais, para assegurar que os pedidos são atendidos. “Mas as famílias que estejam em localidades onde não existem doadores inscritos não ficam sem ajuda, porque com o envio online temos conseguido ultrapassar essa questão”, esclarece Luísa Lopes.
Além disso, as famílias que não têm acesso à internet podem ser inscritas ou direcionadas por outra pessoa. “Esta é uma ajuda de emergência pontual e também serve para diminuir o estigma de pedir auxílio. Todos na vida, uma vez ou outra, precisamos desse auxilio e é importante podermos contar uns com os outros”, diz.