Apesar de ser uma das profissões mais desejadas do mundo – em particular, por crianças nos seus planos para o futuro – a vida de astronauta nem sempre é fácil. Têm o privilégio de viajar pelo espaço, mas os astronautas passam vários meses e anos sozinhos nas suas missões. Isolados no meio do nada, sem qualquer contacto humano para além dos restantes membros da tripulação, nem todos as pessoas estão aptas para este tipo de desafio mental e físico, que costuma exigir anos de treino.
Com a pandemia de Covid-19 e os sucessivos confinamentos que dela resultam, o isolamento deixou de ser uma realidade apenas dos astronautas, alastrando-se a toda a população. No entanto, ao contrário dos astronautas, a maioria das pessoas não foi treinada para contrariar a sua própria natureza – todos os seres humanos são animais sociais. Assim, de forma a auxiliar aqueles que mais sofrem com o isolamento, a NASA partilhou os métodos utilizados pelos astronautas para lidar com a falta de contacto com o mundo real em missões espaciais, úteis para lidar com o confinamento em que vivemos neste momento.
Os sete conceitos fundamentais para lidar com o isolamento
Tom Williams, diretor científico do programa de comportamento humano da NASA, apresentou o acrónimo CONNECT – cada letra representa um dos conceitos fundamentais incutidos nos astronautas para aprender a lidar com o isolamento: Community (Comunidade), Openness (Abertura), Networking (Comunicação), Needs (Necessidades), Expeditionary Mindset (Mentalidade de Expedição), Countermeasures (Contramedidas), Training and Preparation (Treino e Preparação).
O primeiro conceito, “Comunidade”, passa pela consciência de que o nosso trabalho está a ter um impacto social. Assim como os astronautas sentem que estão a inspirar pessoas quando revelam imagens da aterragem na Lua, ou do Planeta Terra visto do espaço, também os humanos em isolamento devem sentir que o seu isolamento serve para algo – neste caso, para evitar que o vírus da Covid-19 se propague. Para aqueles com um espírito mais altruísta, que não sentem que tal é suficiente para se sentirem preenchidos, há outras opções, como o voluntariado ou a realização de donativos a instituições.
Por sua vez, a “Abertura”, como indica o nome, refere-se à abertura a novos desafios. Perante um isolamento onde somos obrigados a adaptar-nos a realidades que nunca experienciamos na nossa vida, como o teletrabalho ou a distância de outras pessoas, é essencial que tentemos abrir os horizontes, como os astronautas são obrigados quando estão no meio do espaço. A “Comunicação” é particularmente importante para nos ajudar a ultrapassar estes novos desafios: seja por via digital, com família e amigos, ou física, com as pessoas com quem vivemos. No entanto, esta comunicação não se tem de resumir a conversar – porque não encomendar comida para entregar na casa de outra pessoa, como um presente?
No meio de todo este impacto social e adaptação a novas realidades, as nossas “Necessidades” são prioritárias. A NASA realça que, de forma a ficarem psicologicamente, emocionalmente e fisicamente aptos quando estão em isolamento, os astronautas seguem um plano rígido de alimentação e exercício físico, assim como um horário fixo de sono e trabalho, com tempo para atividades lúdicas. As rotinas são fundamentais neste processo, tanto para um astronauta como para qualquer outra pessoa em isolamento – mas exigem autodisciplina. Em relação ao sono, a NASA deixa uma sugestão: se baixarmos a intensidade das lâmpadas de casa uma hora antes de ir dormir, o nosso corpo vai estar preparado para terminar o dia de forma saudável.
A “Mentalidade de Expedição”, importante para os astronautas conseguirem trabalhar e viver em equipa quando estão a milhares de quilómetros da Terra, também se aplica ao isolamento em casa: boa higiene, manter a casa limpa, respeitar os pontos de vista dos outros nas discussões e dar apoio caso seja necessário é particularmente relevante para quem divide a casa com pessoas de diferentes visões ou culturas. A par desta mentalidade de aceitação e paciência, surgem as “Contramedidas”: as ações que podemos tomar para contrariar a ansiedade do isolamento, muito comum nos tempos de pandemia. Estas podem variar entre a meditação, a escrita, o desenho, ou qualquer outro tipo de atividade que ajude a limpar a mente e a abstrair do lado negativo do “mundo real”.
Todos estes seis conceitos referidos são todos postos em prática pelos astronautas no espaço depois de terem recebido o “Treino e Preparação.” Contudo, a maioria dos humanos saltou esta etapa diretamente para o isolamento, sem manual de instruções para lidar com uma pandemia mundial. Ainda assim, a NASA afirma que esta ainda pode ser uma altura para aprendizagem de outras habilidades, através de cursos online ou de livros – o confinamento pode ser a altura ideal para finalmente aprender uma língua ou montar uma nova peça de mobília para a casa.
Nas suas futuras missões à Lua e a Marte, os astronautas da NASA viverão isolados de toda a humanidade – ao contrário das pessoas que ficam na Terra, não poderão fazer passeios higiénicos para apanhar ar e ver (à distância) outros seres humanos. Assim, não lhes restará outra alternativa senão pôr em prática de forma rígida estes setes conceitos. Os que ficam cá em baixo, na Terra, podem seguir os seus exemplos nos próximos tempos – para fins de imaginação, podemos convencer-nos que os próximos meses são uma autêntica missão espacial.